segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Crônica 91: 1000 a Zero para a Abelha

E o mundo por mais urbanizado que seja, continua sendo o mesmo mundo de sempre. Bichos e plantas fazem parte do cenário mesmo nas maiores metrópoles. Não tanto quanto gostaríamos, é verdade, mas ainda fazem parte. E são os mais variados. A começar pelos mais fofinhos e adestrados. Cães. Gatos. Passando por animais selvagens como araras. Tartarugas. Papagaios. E, por fim, os mais nojentos. Temerosos e evitados. Ratos. Baratas.
Estávamos sentados em uma das mesas. Era cedinho. Aquele calor pavoroso ainda não se apresentava. Ela estava arrumada. Salto alto. Maquiagem. Bolsa. Pasta. Jornal nas mãos. Eu estava expresso. Forte. Com espuminha. E, o mais importante, doce.
Era apenas mais um início de dia. Essa minha amiga é daquele tipo fiel. Vem todos sempre. Ela gosta de começar o dia comigo. Já a ouvi comentar: “sem o meu cafezinho, meu dia não começa”. Ai, fiquei super. Hiper. Ultra feliz. Ainda mais em épocas com esta em que estou parcialmente abandonado.
Voltando ao assunto. Em determinado momento, ela colocou o jornal sobre a mesa. Levantou-se devagar. Ajeitou a roupa e seguiu até o toilete. Eu fiquei por ali mesmo. Esperando. Como de costume. De repente, vi um daqueles bichos que a gente evita vindo direto para cima de mim. Sim. Uma abelha. E eu ali. Sem poder fazer nada.
E, puft. Ela caiu pra dentro. Nadou. Mergulhou. Ficou toda lambuzada de mim. Foi até lá o fundo. E... Encontrou... O Sr. Açúcar. Nesse momento, minha amiga querida voltou. Aparentemente estava tudo normal, já que a abelha estava camuflada no meu líquido escuro. Ela não viu. Sentou. E deu um gole em mim.
Chegamos à parte estranha da história. A abelha, num esforço “sobrehumano”, pulou do fundo da xícara. Passou pelo líquido quente. Entrou na boca da minha amiga. E... é isso mesmo. Picou a parte interna do seu lábio superior. Minha amiga. Uma das poucas que têm me visitado nesse verão. Saiu de lá com a boca inchada. Dolorida. Com um ferrão nos lábios. Que coisa...

Por sorte ela não ficou com raiva de mim. Continua vindo me ver todos os dias pela manhã. Ainda está com a boca bastante inchada. Mas, reparei que ela adquiriu um novo hábito: checar a xícara com a colherzinha, sempre, antes de bebericar meu conteúdo... Vai que...

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Crônica 90: Esperando o Outono Chegar!


Sabe, sou um café. Brasileiríssimo de origem. Sei que sou muito querido no meu país. E tenho o hábito de transformar momentos difíceis em fáceis. Procuro ver o lado interessante das coisas. Gosto, até mesmo, daqueles clientes mais chatos e arrogantes. Consigo conviver até com os adeptos do café descafeinado... Arrrrg... Uma contradição por si só, não?

Mas preciso confessar que ando bastante descontente nestes últimos meses. Alguém sabe o porquê? Eu explico. Minha casa anda cheia de gente. Crianças, jovens, cachorros, adultos, velhos. E eu só vejo e acompanho todos de longe. Muito longe. Não posso ouvir suas histórias. E, consequentemente, estou há muito tempo longe dos meus queridos amigos.

Isso dói, sabe? Às vezes eles pensam em pedir um drink gelado de café. Aí eu me animo todo. Mas, invariavelmente, desistem e optam por algo mais fresco. Um suco. Uma cerveja. Água. Estou perdendo espaço para a água!

Dia desses, estava eu lá, entediado. No meu balcão. Eu e minhas colegas xícaras. Tristonhos. Conversávamos apenas sobre futilidades. O tempo. Uma notícia ou outra na tv. O calor (claro). A falta de chuva. Conversinha mais chata, "sô"!

Bom, sentaram-se dois amigos. Uma moça e um rapaz. Os dois com um gosto um pouco duvidoso para se vestir. Ela usava roupa curta demais. Justa demais. E ele, uma bermuda que deixa a b... de fora e cobre apenas metade da perna. Toda desleixada. Um negócio horroroso. Mas meu amigo, mesmo que mal trajado, estava querendo minha companhia.

Euzinho, lá do balcão, me empolguei todo. Já avisei as meninas. "Opa! vamos dar uma voltinha pelo salão". "uhuuuuu" – gritaram em uníssono. No entanto, no momento em que o rapaz falava com o garçom, sua amiga "piriguete" disse: "Ai credo! Vai tomar café nesse calor? Não acredito!". O garçom, sem saber bem o que fazer, sugeriu uma das opções de drink gelado. Mas a mocinha... "Não! Nada de café! Só de pensar em café me dá calor!!!!!".

O menino, um tanto quanto sugestionável e indeciso, diz: "é verdade... melhor um copo de suco de melão". Ah, fala sério. Ele trocou o delicioso sabor de um café bem passado. Por um suco de melão? Melão tem gosto de que? Existem especialistas no meu sabor, no meu aroma. Alguém é especialista em melão?”. Nossa, as meninas murcharam novamente suas asinhas. E eu, bom, eu fiquei ali. Quieto. Esperando que alguém quisesse dividir seu dia comigo. Voltei das minhas férias super frustrado. Esperando o outono chegar... Mas, vai chegar e eu sei que vocês vão voltar!

Sempre seu!
O Cafezinho!