terça-feira, 29 de novembro de 2011

Crônica 62: O Cuidado

"Amigos já são nossos amigos antes mesmo de conhecê-los. Basta que consigamos encontrá-los em meio a multidão..." (Cafezinho)

Algumas situações realmente me comovem. Bem em frente à minha casa, instalaram-se dois moradores de rua. E seu cachorro. Lindinho. Vejo que os dois têm sua rotina diária que inclui uma xícara de café quente lá em casa.
Dia desses, um lindo sábado de sol. Os dois permaneciam ali. Um saía de vez em quando. Voltava. Depois era a vez do outro. “Preciso dar uma volta com o (o cachorro), ele já deve estar cansado de ficar deitado”. Recolheu o pote de água. Pegou uma corda em algum lugar, amarrou no cachorrinho e saiu para dar uma volta.
Um pouco mais tarde. O que era sol virou nuvem. O que era calor virou água. Caiu uma chuva daquelas. Os dois homens contavam apenas com dois trapos para se cobrir. Então, uma senhora trouxe um pequeno cobertor. Daria para apenas um deles se cobrir. Os dois não tiveram dúvidas. Cobriram Zé. Fizeram um tipo de cueiro e colocaram confortavelmente deitado no colo de um deles.
Zé é um labrador. Chegou até nosso morador de rua, quando uma ninhada inteira foi abandonada em uma das praças da região. “Pois é, alguém deixou todos numa caixinha. Sozinhos. Passei por lá, vi e achei melhor não pegar. Resolvi que eles mereciam uma sorte melhor, que viver na rua”, disse ao gerente lá do meu estabelecimento. O Rapaz tomava um café com pão e manteiga, no balcão. Um amigo fiel, esse.
“Mas fiquei encafifado. Passei lá novamente no fim do dia e pensei: se ainda tiver algum, fica comigo. Era um dia frio, quando voltei até a praça, vi o cãozinho. Sozinho. Triste. Com medo. A caixa já estava rasgando. Não aguentei. Ele se parecia comigo. Pensei que poderíamos cuidar um do outro”.
“E aqui estamos”. Continuou. Dividimos tudo. Comida. Água. Calor. Um veterinário aqui do bairro dá sempre uma olhadinha nele. O gerente parecia emocionado. Acabado o lanche, o rapaz voltou para o outro lado da calçada. Levando pão e água para Zé...
Eu, café, achei emocionante o depoimento. E o respeito mantido. Até porque, as notícias que chegam até mim em relação aos animais são péssimas. Um cachorrinho arrastado por um carro morreu, depois de dias de sofrimento. Outro foi arrastado por uma moto. Fora os que são abandonados quando estão doentes ou mesmo velhos. Ou, apenas, porque a família vai se mudar e ele não está nos planos.
É de partir o coração, até de um velho café, como eu...

Mariana Primi Haas - MTB 47229                                                                                                                                        Novembro/2011