
E no meio de toda essa conversa.
Aparece, discretamente, um terceiro elemento. Um pequeno elemento. Estava por
volta de uns sete anos. Trazia consigo uma caixinha de engraxate. Fazia um
calor absurdo. E ele olhava. Olhava. Observava todos tomando sorvete. Sucos ou
bebidas doces e sofisticadas.
Em determinado momento seus
olhares se cruzaram. O dela e o do menino. “Tia... Você me daria um sorvete?”. Humm... Será? Respondeu de forma bem
humorada, olhando para o seu acompanhante. Claro!
Entre!
Uau! Mascarpone? Você gosta? Ele acenou positivamente com a cabeça.
“É o mais bonito”. Sei... Prefere
experimentar? E pediu à garçonete que servisse uma prova para ele. Gostou? “Adorei”. Ele se sentia
importante. Pudera escolher o sabor. Experimentar. “Sabe, tia, meu irmão é uma
pessoa mais chocolate que esse que eu escolhi...” Entendo. Mas esse presente é seu. Vamos dividir em dois potinhos? Um
pra você e um para o seu irmão? “Está ótimo!”.
Os olhos do pequeno trabalhador
brilhavam. Ficaram enormes. Pegou os potinhos, agradeceu e saiu. Não sem antes
dar-lhe um beijo no rosto. Olhou bem nos seus olhos e disse: Obrigada! Ela
voltou para a mesa onde eu e seu amigo a aguardávamos. Ela estava satisfeita.
Contou a conversa com o menino. No meio de sua narrativa – do lado de fora - o pequeno e o irmão discutiam porque um deles
deixou o pote cair. “Olha ai... Está derrubando tudo”... Riram.
“Sabe... Se ele escolheu este
sorvete significa que vem sempre aqui”. E era verdade. Ele devia ir sempre ali
mesmo. Mas e daí? Era criança. Estava calor. E ele queria sorvete. Era natural.
Mas impossível pra ele. E pra ela... Bom, pra ela era um lindo sorriso. Ela
havia ganhado um lindo sorriso. Que guardaria sempre como um belo e delicioso
sorvete num dia de sol.
Mariana Primi Haas - MTB 47229 Janeiro/2013
Mariana Primi Haas - MTB 47229 Janeiro/2013