domingo, 18 de setembro de 2011

Crônica 59: A Cerveja

Em geral, as pessoas não acreditam no como o ambiente de um Café pode ser realmente interessante. Minha casa funciona como um microcosmo onde a sociedade é refletida e milhões de personagens desfilam e descortinam o retrato da sociedade em que vivemos.
Estou filosofando demais? Não acredito. Dia desses, estava eu em mais um fim de domingo quando se sentaram duas pessoas. Em duas mesas diferentes. Ela, uma linda mulher. Ele um homem interessante.
Cada um na sua história. Na sua vida. Ela falava ao telefone. Dava risada. E seguia em minha companhia. Ele lia seu jornal. Acompanhado por uma cerveja e seu laptop. Ele tomava uma cerveja. De cara antipatizei com a figura. Trocar meu calor. Meu aconchego por uma simples e xucra cerveja? Enfim. Eu não tinha nada a ver com isso. Não estava naquela mesa.
Fiquei ali, tranquilo, acompanhado pela mulher e seu celular. Já comentei que detesto celular. Suas vibrações irritantes. A invasão dos momentos de introspecção. Ou pior, o barulho ensurdecedor. Mas, de qualquer forma. Ia ser um encontro tranquilo.
Observava a mesa da cerveja. Ele estava tranquilo. Vivendo o mundo paralelo da internet. O que também, para mim, é bastante invasivo. Quando me dei conta, não era apenas eu que estava entretido com aquele rapaz. A moça também estava com seus olhos vidrados nele.
Não conseguia tirar os olhos. Calou-se. Desligou o celular. Concentrou-se na tal mesa da cerveja. Como ele não olhasse para a gente, continuamos focados. Intermitentemente. Ela não se conformava. Ele realmente não levantou os olhos em sua direção uma única vez. Resolveu ir ao banheiro. Passou ao seu lado. Mesmo assim, nada aconteceu. Não é possível... Ou é cego, ou é um idiota. Pensou nossa protagonista. Aparentemente optou pela opção da cegueira.
Passados alguns minutos, voltou a prestar atenção no fulano. Ela estava de fato indignada. Resolveu que não voltaria para casa sem ao menos ser vista. Estava determinada a provar sua existência. Encheu-se de coragem. E foi até a mesa de seu alvo. Com licença, mas estou te observando e achei curioso o fato de você estar nesse ambiente e ter optado por uma cerveja ao invés de um café – como seria mais usual. E deu-lhe um irresistível sorriso.
Ele, por sua vez, que havia achado o comentário uma impertinência, declinou de sua arrogância e de seu mundo virtual, e resolveu entender melhor o que aquele lindo sorriso queria por ali. Riu da pergunta da desconhecida. “Eu normalmente opto pela cerveja, pois ela não tem prazo de validade”.
Opa! Prazo de validade? Isso me ofendeu. Fiquei de longe tentando entender essa teoria tão... Tão... Sem sentido. Que? Perguntou ela. Nesse momento ele entendeu que dali uma boa oportunidade de conversa poderia surgir. “Quer sentar aqui?”. E lá fomos nós. “O prazo de validade referido é o tempo que se demora em consumir o café. Normalmente, as pessoas vêm tomam um café e pronto. É difícil tomar duas ou três ‘doses’. O que não permite que a gente permaneça no ambiente. Ou que estabeleçamos conversas muito longas com os amigos”. Interessante... Pensou ela.
“De qualquer forma. Eu discordo. O mundo pode passar por um café. É um motivo para uma conversa amiga. Para um encontro de negócios. Para sair sozinha de casa. E até para, de repente, conhecer alguém interessante e debater o tema...”. Percebeu que o nosso assunto é o café e não a cerveja...?

Mariana Primi Haas - MTB 47229                                                                                                                                        Setembro/2011

4 comentários:

Fernando Rubano disse...

Ainda vou pelo café...propõe mais companhia até mesmo meditando vai bem.
Fe.Ruabno

Anônimo disse...

Nada como um cafezinho para nos aquecer nos momentos mais ínusitados de nossas vidas.

Regina disse...

Queridos, tudo tem sua hora. Um bom café pela manhã; à tarde em meio a um passeio gostoso na Vila Madalena, na Paulista, em Buenos Aires... mas num happy hour, calorzinho chegando, uma cerveja geladinha cai bem!

Fábio M. disse...

Esse cafezinho tão inteligente, charmoso, e que ainda nos faz viajar com suas histórias, ninguém troca. Sou ele e não abro.