sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Crônica 73: Sobre regras, exceções e Sartre


Por um instante sentiu-se especial. Mesmo sabendo que deveria ir embora ela queria ficar. E simplesmente sentir-se protegida. Mas, sabia que coisas assim não aconteciam na sua vida. Era só a bateria começar a bater em seu peito que logo o repique dava problema. Ou então era uma cuíca. Um surdo. Aliás, chegou à conclusão que a bateria de seu coração fora composta apenas por surdos.

Não que não ouvisse o que lhe diziam. Tinha prazer em ouvir. Mas pra quê? Aquela história já tinha acabado. Aquele caso já era perdido. Mesmo assim aceitou. Por mãos cuidadosas, talvez. Comprou a ilusão como se fosse peça em exposição em uma vitrine dantesca.

Foi nesse momento tragicômico da sua vida que nos conhecemos. Afinal, eu, o cafezinho, sou perfeito para aquecer corações. Quando entrou pude ver em seu semblante um misto de raiva, incompreensão e decepção. Talvez a última fosse a mais presente em seus pequenos e distraídos olhos. Olhos de quem reflete sua alma em um espelho.

Em sua mente podiam-se ler palavras ofensivas, situações desagradáveis, misturadas com o doce sabor do açúcar de uma hora atrás. Logo ela. Sempre tão esperta. Que costumava dizer tchau... Mas esse ela já havia dito. Sentia-se na pele de Mathieu, personagem de Sartre, que como ela estava na “Idade da Razão”. Racionalizando. Tentando descobrir o porquê permitiu. Por que teria feito isso consigo. E recordou-se com clareza de um trecho do livro. (...) É verdade, devia zangar-me. Seria normal. E talvez me zangue ainda. Mas por enquanto estou apenas tonto.

Uma lágrima desce seca pela sua bochecha magra e acaba em sua boca morna. Uma única lágrima. Já era o bastante. Lembrou-se de outras tantas que já rolaram em seu rosto. E compreendeu toda sua vida feita de despedidas. De desencontros e de momentos vazios.

E no seu último gole. Quando eu já estava frio, ela pensou: “se você tivesse pedido, eu teria aceitado...”

Mariana Primi Haas - MTB 47229                                                                                                                                        Fevereiro/2013

5 comentários:

Luciana disse...

Parabéns pelo texto!!! Quem nunca...

César disse...

Muito legal seu blog.

Ah, o café...Quantas inspirações.

Esses pequenos ou grandes registros que nunca vão deixar de existir mas nos trazem a chance de compartilhar outras milhares de maravilhosas, doces e indispensáveis contemplações.

poeta, essa minha amiga.

Parabéns.

Beijos.

vera disse...

Uma palavrinha muito importante,mas que pode decidir muito: SE. Essa palavrinha......

Cátia Belarmino disse...

Hj, como conversamos, esse texto foi feito para mim..
"Logo ela. Sempre tão esperta. Que costumava dizer tchau..."

Guilherme disse...

Que beleza de texto, hein?

um café gelado e triste, como o fim de todo amor.

compartilhe com todos os clientes e atendentes desse café.

bjs