domingo, 26 de maio de 2013

Crônica 80 - Sobre o Humano, o Constrangimento e o Cafezinho

Eu, diferente de Judith Rossner que ia "De Bar em Bar", perambulo de mesa em mesa tentando entender um pouquinho desse bicho tão racionalmente irracional que é o ser humano. Saio da minha cozinha e vou de carona nas mãos de um garçom me equilibrando sobre a bandeja (só eu sei como isso pode ser desagradável).

E quando chego na mesa, preciso dividir a atenção com muita "gente" ao meu redor. Sim, houve um tempo em que eu era a estrela. Hoje, talvez nem seja notado. É tablet, celular, notebook, netbook.
Eu sou sorvido, na maioria das vezes, sem sequer ser olhado. Me sinto meio estranho. Parece que se fosse eu ou uma insossa xícara de chá daria na mesma. Sou aquela companhia invisível. Me sinto uma desculpa. É como se fosse apenas um motivo para estar ali.

Por vezes chega a ser constrangedor. Contudo, sou capaz de tirar proveito de situações assim. Como? Observo mais ainda. É quase uma vingança inofensiva e imperceptível a olhos pouco cuidadosos. Você não me vê, mas eu te vejo. Você não me percebe. Não quer me entender. Mas eu te sinto por inteiro. Te olho sem você nem imaginar estar sendo olhado. Consigo entender sua vida inteira e de mim você tem apenas um gole.

Você, caro amigo, vai embora sem se despedir. Às vezes me deixa lá solitário na mesa. Mas vai com o meu gosto na boca e a minha imagem na lembrança. Eu, por minha vez, saio logo dali e vou para a próxima mesa. Escrevo sobre você. Rio. Em algumas situações choro. Mas escrevo sobre casos. O seu e o de outros.

Assim, não tenho mais amigos fiéis. Aqueles que voltam sempre pra me ver. Tenho apenas encontros esporádicos. Em alguns sou feliz. Em outros nem tanto. O mais interessante disso é o quanto algumas pessoas gostam de me exibir como símbolo de tranquilidade. Segurança. Felicidade.

Muitas vezes estão ali sentados. Tristes. Cabisbaixos. Mas tiram o celular do bolso. Montam uma mesa interessante e escrevem: "tarde tranquila" ou "como é bom tomar café com os amigos" ou qualquer coisa do gênero. E postam nas chatas redes sociais. Me usam. Mas continuam sem  me ver. Talvez não se enxerguem também. Não os culpo. A mim já não importa.

O que importa é o que eu sei. É o que eu sou. E eu sou o seu Cafezinho. E estarei aqui. Sempre. No mesmo lugar. E, você, meu caro, sabe onde me encontrar quando precisar de silêncio. Me veja ou não. Me fotografe ou não. Meu único desejo é que quando estiver comigo, esteja. Seja capaz de me sentir. Mas cuidado. Como disse Ana Carolina em uma de suas músicas, "eu também sou feito de deixar de ser". E no meu caso... Bom, no meu caso o que posso fazer é chegar frio. Gelado. Irreconhecível até você.

Mariana Primi Haas - MTB 47229                                                                                                                                        Maio/2013

2 comentários:

Regina disse...

Muitas vezes é bom passar desapercebido. Nos protege... Mas, atenção, às vezes. Em outras melhor "dar as caras".

Cafezinho disse...

É exatamente isso!