Mais um dia de chuva. Logo desanimo quando ouço trovões e vejo relâmpagos no céu da minha cidade. Por quê? Ah, nessas ocasiões sou menos procurado por meus queridos amigos. Muitos preferem chegar logo em casa. Querem evitar o trânsito. Tomar banho. Enfim, pensam em tudo, menos em apreciar minha deliciosa companhia.
Mas coisas interessantes também podem acontecer em momentos inesperados. Sábado à tarde. Caia um “pé d’água”, como costumam dizer por aqui, minha casa estava vazia. Eu fazia companhia a um rapaz. Sentado. Olhando pro nada. Atendia ao telefone de vez em quando.
De repente entra um saco plástico e se senta junto ao rapaz. Estranhou. Pois era isso mesmo. Uma jovem adentra o salão com um saco plástico na cabeça. Desesperada. Parecia uma mercadoria de supermercado.
- Eu não estou acreditando nessa chuva! Meu cabelo vai ficar horrível pra festa! – esbravejava.
- Calma amor. Nem molhou. O seu cabelo está lindo! – dizia o rapaz tentando animá-la.
Além do saco na cabeça, ela trazia um volume estranho no abdômen. Olhei. Achei aquilo estranho. A moça era magrinha demais pra ter uma barriga volumosa como aquela. Fiquei encafifado. Eu estava certo ela era magrinha mesmo. O volume se tratava tão somente de um cachorro.
Um lindo cachorrinho. O namorado não se conteve:
- O que é isso? Pra que colocá-lo dentro da blusa?
- Ele acabou de sair do pet! Fez escova... Não pode se molhar!
Finalmente a moça sentou. Amarrou o inquieto “pitchuco” na cadeira. Abriu uma bolsa enorme. Tirou de lá um pente. Espelho. Maquiagem. Acessórios para o cachorro. Entre eles uma escova. Um potinho de água. Água. “Petisquinhos”. Não parava de sair coisa de lá.
Pediu um café. Voltei. Cheio. Quente e encorpado.
- Garçom, traz adoçante, por favor?
- Infelizmente está em falta senhora.
- Tudo bem.
Tudo bem mesmo. Ela no mesmo momento retirou três saquinhos de adoçante da bolsa. Fora todo resto. Celular. Carteira. Agenda. Etc. Etc. Etc.
- Lindinha. Tem mais alguma coisa ai? Só falta você tirar a sua mãe de dentro dessa "mala"!
Mariana Primi Haas - MTB 47229
Março/2009
segunda-feira, 30 de março de 2009
terça-feira, 24 de março de 2009
Crônica 43: A Racionalidade
Eu sei que sou apenas um cafezinho. Que muita gente não presta a mínima atenção em mim. Sou um ser irracional. Ou seja, não me equiparo ao grau de evolução da raça humana. Nem sequer pertenço a uma raça, etnia, credo, ou qualquer outra segmentação societária. Sou só, única e exclusivamente um cafezinho.
Tudo isso é uma obviedade? Talvez. Mas, faço questão de enfatizar tal obviedade. Afinal, tamanha racionalidade dos Homo Sapiens traz maravilhas tecnológicas, constrói casas aprova de terremotos, faz com que a medicina avance cada dia mais... Nada disso eu, cafezinho, posso fazer. Sou o maior entusiasta do único animal racional do planeta.
Porém, quando meus clientes abrem seus jornais. Suas revistas. Seus laptops. Celulares. O que vejo é absolutamente entristecedor. Estou estarrecido com uma das principais notícias da semana: “Mulher bate com cabide em criança de 1 ano e 2 meses”.
Como assim? Foi a pergunta que me fiz. O que aconteceu com o poderoso cérebro humano? Desenhar diversos cabides nas pequenas costas de um bebê. Ele mal nasceu. Pouco freqüentou esse planeta estranho. Ainda nem está adaptado. Não anda com suas próprias pernas. Não come com suas próprias mãos.
Colocam fogo em seu corpo. Em suas pequeninas partes intimas. Raspam e cortam sua cabeça. Deixam marcas. Marcas tão fortes que talvez o tempo não seja capaz de cicatrizar. Talvez esse cabide permaneça rascunhado em sua alma e nem mesmo ele saiba o porquê.
E não é só ele que passa por desafios para permanecer por aqui. O casal Nardoni irá a julgamento popular por atirar uma criança de um apartamento e matá-la. Pedófilos... Pedófilos e mais pedófilos, aparecem todos os dias nos telejornais. Abusos de poder contra crianças. Amantes que para se vingar de suas rivais envenenam os filhos da outra. E por ai vai.
A racionalidade humana está atrapalhando. Fazendo com que esqueçam sua condição de animais. Onde cada espécie cuida de seus pares. Onde os “pais e mães” alimentam e protegem seus filhotes. Onde filhotes perdidos são “adotados” por outros e protegidos.
Que outro bicho pode fazer isso melhor que o único a ter uma máquina chamada cérebro a seu favor? O problema é que essa racionalidade anda tornando o homem egoísta. Cada vez mais egocêntrico. Cruel. E nesses momentos um pequeno e humilde cafezinho, como eu, precisa ouvir explicações como: “ah! Eu bati nele (com o cabide) por que ele chorava demais... No meio da noite... Eu precisava dormir... Ai eu peguei um isqueiro...”
Desastre atrás de desastre. Numa roda viva sem limites. No entanto, termino essa crônica da mesma forma que comecei: Eu sei que sou apenas um cafezinho. Que muita gente não presta a mínima atenção em mim. Sou um ser irracional. Ou seja, não me equiparo ao grau de evolução da raça humana. Nem sequer pertenço a uma raça, etnia, credo, ou qualquer outra segmentação societária. Sou só, única e exclusivamente um cafezinho.
Tudo isso é uma obviedade? Talvez. Mas, faço questão de enfatizar tal obviedade. Afinal, tamanha racionalidade dos Homo Sapiens traz maravilhas tecnológicas, constrói casas aprova de terremotos, faz com que a medicina avance cada dia mais... Nada disso eu, cafezinho, posso fazer. Sou o maior entusiasta do único animal racional do planeta.
Porém, quando meus clientes abrem seus jornais. Suas revistas. Seus laptops. Celulares. O que vejo é absolutamente entristecedor. Estou estarrecido com uma das principais notícias da semana: “Mulher bate com cabide em criança de 1 ano e 2 meses”.
Como assim? Foi a pergunta que me fiz. O que aconteceu com o poderoso cérebro humano? Desenhar diversos cabides nas pequenas costas de um bebê. Ele mal nasceu. Pouco freqüentou esse planeta estranho. Ainda nem está adaptado. Não anda com suas próprias pernas. Não come com suas próprias mãos.
Colocam fogo em seu corpo. Em suas pequeninas partes intimas. Raspam e cortam sua cabeça. Deixam marcas. Marcas tão fortes que talvez o tempo não seja capaz de cicatrizar. Talvez esse cabide permaneça rascunhado em sua alma e nem mesmo ele saiba o porquê.
E não é só ele que passa por desafios para permanecer por aqui. O casal Nardoni irá a julgamento popular por atirar uma criança de um apartamento e matá-la. Pedófilos... Pedófilos e mais pedófilos, aparecem todos os dias nos telejornais. Abusos de poder contra crianças. Amantes que para se vingar de suas rivais envenenam os filhos da outra. E por ai vai.
A racionalidade humana está atrapalhando. Fazendo com que esqueçam sua condição de animais. Onde cada espécie cuida de seus pares. Onde os “pais e mães” alimentam e protegem seus filhotes. Onde filhotes perdidos são “adotados” por outros e protegidos.
Que outro bicho pode fazer isso melhor que o único a ter uma máquina chamada cérebro a seu favor? O problema é que essa racionalidade anda tornando o homem egoísta. Cada vez mais egocêntrico. Cruel. E nesses momentos um pequeno e humilde cafezinho, como eu, precisa ouvir explicações como: “ah! Eu bati nele (com o cabide) por que ele chorava demais... No meio da noite... Eu precisava dormir... Ai eu peguei um isqueiro...”
Desastre atrás de desastre. Numa roda viva sem limites. No entanto, termino essa crônica da mesma forma que comecei: Eu sei que sou apenas um cafezinho. Que muita gente não presta a mínima atenção em mim. Sou um ser irracional. Ou seja, não me equiparo ao grau de evolução da raça humana. Nem sequer pertenço a uma raça, etnia, credo, ou qualquer outra segmentação societária. Sou só, única e exclusivamente um cafezinho.
Mariana Primi Haas - MTB 47229
Março/2009
Março/2009
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terça-feira, 17 de março de 2009
Crônica 42: A Fã
É impressionante como futebol é um assunto que rola em qualquer mesa. Até mesmo rodas femininas comentam sobre futebol. E não é só sobre as pernas dos jogadores ou sobre os times dos namorados. Não. A mulherada anda falando da troca de passes. Venda de atletas. A importância das estrelas nos times.
E foi acompanhado de três mulheres que além de moda e fofoca ouvi as últimas notícias sobre o que anda acontecendo nos gramados brasileiros, ou melhor, paulistano. O assunto era... Ronaldo. O brasileiro que não desiste nunca. O grande ídolo de torcedores do mundo.
- Menina, o Ronaldo tem seu valor, mas o corpinho... Tá parecendo o “tiozão do churrasco”.
- Verdade. Mas pro time é importante, ele traz patrocínio. Todos que jogam com ele ficam valorizados e o time se torna notícia no mundo. – disse uma das torcedoras.
- É... Mas que está acima do peso está...
A amiga corintiana subiu nas tamancas e ficou um tanto nervosa. Ficou vermelha e deu um golão em mim. Em seguida falou:
- Olha, você não entende nada! Ele não tem mais gordura nenhuma no corpo...
- Ah! Não? – perguntam as outras duas confusas.
- Claro que não. É tudo massa muscular!
Eu que estava ali, frio já, só observando. Precisei analisar essa fala. “O Ronaldo não tem gordura é pura massa muscular”. Como assim? Tudo bem que ele seja um excelente jogador ou que já tenha sido o melhor do mundo. Mas e a barriga? Well, well. Ser fã de carteirinha é isso ai. Vale até chamar barriga de chope de massa muscular.
Mariana Primi Haas - MTB 47229
Março/2009
E foi acompanhado de três mulheres que além de moda e fofoca ouvi as últimas notícias sobre o que anda acontecendo nos gramados brasileiros, ou melhor, paulistano. O assunto era... Ronaldo. O brasileiro que não desiste nunca. O grande ídolo de torcedores do mundo.
- Menina, o Ronaldo tem seu valor, mas o corpinho... Tá parecendo o “tiozão do churrasco”.
- Verdade. Mas pro time é importante, ele traz patrocínio. Todos que jogam com ele ficam valorizados e o time se torna notícia no mundo. – disse uma das torcedoras.
- É... Mas que está acima do peso está...
A amiga corintiana subiu nas tamancas e ficou um tanto nervosa. Ficou vermelha e deu um golão em mim. Em seguida falou:
- Olha, você não entende nada! Ele não tem mais gordura nenhuma no corpo...
- Ah! Não? – perguntam as outras duas confusas.
- Claro que não. É tudo massa muscular!
Eu que estava ali, frio já, só observando. Precisei analisar essa fala. “O Ronaldo não tem gordura é pura massa muscular”. Como assim? Tudo bem que ele seja um excelente jogador ou que já tenha sido o melhor do mundo. Mas e a barriga? Well, well. Ser fã de carteirinha é isso ai. Vale até chamar barriga de chope de massa muscular.
Mariana Primi Haas - MTB 47229
Março/2009
quinta-feira, 12 de março de 2009
Crônica 41: O Incêndio
Dessa vez eu não fui convidado a sentar. Fui levado até a mesa em socorro de um de meus freqüentadores. Isso mesmo. Em socorro. Trata-se de um senhor que está por volta dos sessenta anos. Todo o dia vem até minha casa e, desaforadamente, escolhe para sua companhia uma cerveja.
Aliás, uma não, várias “long necks”. Chega feliz, animado. Senta-se. Não é nem preciso chamar o garçom. Este vem à sua mesa rapidamente. E já chega com o pedido em mãos. Uma long neck. Sempre a mesma marca. Ele vai saboreando. Toma vagarosamente. Uma, duas, três...
Aos poucos sua fisionomia começa mudar. Os olhos vão ficando avermelhados. As mãos trêmulas. A cabeça começa levemente a cair. Sua expressão se torna estranha. Não diz muita coisa. É como se mantivesse o olhar pregado com um prego frouxo em algum ponto. Ponto esse, que provavelmente existe apenas na sua cabeça.
Até este momento as coisas estão sob controle. O problema foi justamente quando as coisas saíram do domínio do gerente e do próprio cliente. Dia desses, nosso amigo, resolveu acender um cigarrinho. Nada demais, algo “inocente” e muito comum em pessoas com o nível etílico alterado.
Cutucou o cliente da mesa ao lado. E em sua fala mole pediu um cigarro. O homem da outra mesa não se incomodou e atendeu ao pedido inusitado. O homem segurou o bastão branco nas mãos. Olhou. Olhou e olhou. Como se não soubesse muito bem o que fazer com aquilo. Como se sequer recordasse pra que havia pedido aquilo.
De repente lembrou-se. Era para fumar. Mas ele não fumava. Tudo bem. Já estava com o cheiro do tabaco nas mãos mesmo. O cliente da mesa ao lado, vendo a situação, perguntou: “O senhor quer o isqueiro?”. O senhor, um tanto quanto confuso, assentiu afirmativamente.
O cigarro foi aceso. Colocou o cigarro entre os lábios como ele achava que deveria fazer. E manteve-o ali. As mãos apoiadas na mesa. As pálpebras foram fechando. A cabeça teve uma queda brusca. Ele dormiu. O cigarro na boca. Guardanapos.
A garçonete prevendo uma situação difícil avisou ao gerente. A única resposta que teve foi: “O deixe em paz. Leve um cafezinho para acordá-lo. O homem paga direitinho. Começa subir um leve cheiro de fumaça. E o rapaz da mesa ao lado levanta-se para chamar alguém. Os guardanapos estavam pegando fogo.
Foi quando cheguei. O barraco estava armado. Uma confusão só. O homem acorda vê tudo aquilo à sua volta. Não entende. Olha como se fossem todos loucos. Vê minha xícara e diz: “Oba! Estava mesmo precisando de um desses”. A garçonete aproxima-se perguntando se ele está bem. Está tudo ótimo. Ufa!
Passado o tumulto vira-se para o cliente da mesa ao lado pede um cigarro e pergunta:
- O que está acontecendo? Até parece que houve um incêndio por aqui!
Mariana Primi Haas - MTB 47229
Março/2009
Aliás, uma não, várias “long necks”. Chega feliz, animado. Senta-se. Não é nem preciso chamar o garçom. Este vem à sua mesa rapidamente. E já chega com o pedido em mãos. Uma long neck. Sempre a mesma marca. Ele vai saboreando. Toma vagarosamente. Uma, duas, três...
Aos poucos sua fisionomia começa mudar. Os olhos vão ficando avermelhados. As mãos trêmulas. A cabeça começa levemente a cair. Sua expressão se torna estranha. Não diz muita coisa. É como se mantivesse o olhar pregado com um prego frouxo em algum ponto. Ponto esse, que provavelmente existe apenas na sua cabeça.
Até este momento as coisas estão sob controle. O problema foi justamente quando as coisas saíram do domínio do gerente e do próprio cliente. Dia desses, nosso amigo, resolveu acender um cigarrinho. Nada demais, algo “inocente” e muito comum em pessoas com o nível etílico alterado.
Cutucou o cliente da mesa ao lado. E em sua fala mole pediu um cigarro. O homem da outra mesa não se incomodou e atendeu ao pedido inusitado. O homem segurou o bastão branco nas mãos. Olhou. Olhou e olhou. Como se não soubesse muito bem o que fazer com aquilo. Como se sequer recordasse pra que havia pedido aquilo.
De repente lembrou-se. Era para fumar. Mas ele não fumava. Tudo bem. Já estava com o cheiro do tabaco nas mãos mesmo. O cliente da mesa ao lado, vendo a situação, perguntou: “O senhor quer o isqueiro?”. O senhor, um tanto quanto confuso, assentiu afirmativamente.
O cigarro foi aceso. Colocou o cigarro entre os lábios como ele achava que deveria fazer. E manteve-o ali. As mãos apoiadas na mesa. As pálpebras foram fechando. A cabeça teve uma queda brusca. Ele dormiu. O cigarro na boca. Guardanapos.
A garçonete prevendo uma situação difícil avisou ao gerente. A única resposta que teve foi: “O deixe em paz. Leve um cafezinho para acordá-lo. O homem paga direitinho. Começa subir um leve cheiro de fumaça. E o rapaz da mesa ao lado levanta-se para chamar alguém. Os guardanapos estavam pegando fogo.
Foi quando cheguei. O barraco estava armado. Uma confusão só. O homem acorda vê tudo aquilo à sua volta. Não entende. Olha como se fossem todos loucos. Vê minha xícara e diz: “Oba! Estava mesmo precisando de um desses”. A garçonete aproxima-se perguntando se ele está bem. Está tudo ótimo. Ufa!
Passado o tumulto vira-se para o cliente da mesa ao lado pede um cigarro e pergunta:
- O que está acontecendo? Até parece que houve um incêndio por aqui!
Mariana Primi Haas - MTB 47229
Março/2009
terça-feira, 3 de março de 2009
Crônica 40: O Calor
Que calor é esse, minha gente! E olha que eu adoro temperaturas altas. Como diria um amigo meu, sou sempre servido “quentinho”. Mas, com trinta e três graus é realmente complicado concorrer com opções mais leves e refrescantes. Que raiva.
As pessoas chegam, sentam e, lá de trás do balcão, eu posso ouvir comentários do tipo: “estava louca por um cafezinho, mas hoje vai ser uma água com gás”. Nossa fico pra morrer. Como pode? Eu ali, pronto para receber meus amigos. Pronto para estabelecer aquela relação de amizade, cumplicidade. E esses mesmos amigos preferindo algo gelado.
Nunca ouvi ou vi alguém sentar para refletir tomando suco de laranja. Dia desses fiquei realmente possesso. Uma de minhas maiores apreciadoras sentou-se como sempre faz. E pediu uma coca-cola. Eu, que já estava pronto quando o garçom chegou para tirar o pedido, fiquei desorientado. Como assim?
Sucos, águas e refrigerantes não tem o mesmo poder que um bom café sobre seus consumidores. Apenas refrescam. Isso quando não escolhem sorvetes. É verdadeiramente desgastante. Eu sou um clássico. Os sorvetes são pura massa gelada em uma casquinha. Derretem, fazem sujeira.
Não serei injusto. Alguns tentam degustar-me mesmo sob o efeito escaldante do sol. Como sabem, venho sempre acompanhado de uma água. Um pequeno e delicado copinho. Normalmente é esquecido. Deixando o papel principal para mim. Atualmente, no entanto, tornou-se a estrela.
Muitos apenas dão um golinho em mim e logo me abandonam. Optando por aquele insignificante copinho de água. Justo ele, que deveria realçar meu sabor, meus tons. Agora virei figuração. O ambiente na cozinha está inóspito. As bebidas geladas andam cada dia mais fazendo pirraça comigo. Costumam dizer: “moramos na sua casa e fazemos mais sucesso que você”.
É, meus queridos, é difícil ser café em pleno verão tupiniquim. Mas o inverno vai voltar e meus amigos voltarão a me procurar. Então, esses “refrescos” verão como é que as coisas realmente são. Não se preocupem, eu não sou vingativo e estarei sempre aqui esperando por todos bem quentinho e acolhedor.
Mariana Primi Haas - MTB 47229 Março/2009
As pessoas chegam, sentam e, lá de trás do balcão, eu posso ouvir comentários do tipo: “estava louca por um cafezinho, mas hoje vai ser uma água com gás”. Nossa fico pra morrer. Como pode? Eu ali, pronto para receber meus amigos. Pronto para estabelecer aquela relação de amizade, cumplicidade. E esses mesmos amigos preferindo algo gelado.
Nunca ouvi ou vi alguém sentar para refletir tomando suco de laranja. Dia desses fiquei realmente possesso. Uma de minhas maiores apreciadoras sentou-se como sempre faz. E pediu uma coca-cola. Eu, que já estava pronto quando o garçom chegou para tirar o pedido, fiquei desorientado. Como assim?
Sucos, águas e refrigerantes não tem o mesmo poder que um bom café sobre seus consumidores. Apenas refrescam. Isso quando não escolhem sorvetes. É verdadeiramente desgastante. Eu sou um clássico. Os sorvetes são pura massa gelada em uma casquinha. Derretem, fazem sujeira.
Não serei injusto. Alguns tentam degustar-me mesmo sob o efeito escaldante do sol. Como sabem, venho sempre acompanhado de uma água. Um pequeno e delicado copinho. Normalmente é esquecido. Deixando o papel principal para mim. Atualmente, no entanto, tornou-se a estrela.
Muitos apenas dão um golinho em mim e logo me abandonam. Optando por aquele insignificante copinho de água. Justo ele, que deveria realçar meu sabor, meus tons. Agora virei figuração. O ambiente na cozinha está inóspito. As bebidas geladas andam cada dia mais fazendo pirraça comigo. Costumam dizer: “moramos na sua casa e fazemos mais sucesso que você”.
É, meus queridos, é difícil ser café em pleno verão tupiniquim. Mas o inverno vai voltar e meus amigos voltarão a me procurar. Então, esses “refrescos” verão como é que as coisas realmente são. Não se preocupem, eu não sou vingativo e estarei sempre aqui esperando por todos bem quentinho e acolhedor.
Mariana Primi Haas - MTB 47229 Março/2009
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