Para aquele que se preocupa em observar o outro, as palavras muitas vezes são desnecessárias
Como sempre ela chegou. Antes de sentar fez um aceno ao garçom. Era um simples balançar de dedos. Meigo. Gentil. Foi atendida prontamente. Impressiono-me, cada dia que passa, nessa minha intensa convivência com a espécie humana. Tão sui generes e tão encantadora. É capaz, por exemplo, de se comunicar das mais variadas formas. Pode ser por um simples olhar. Pela postura corporal. Um menear de cabeça. E até pelo silêncio.
No caso em questão, a comunicação se deu através das mãos. Sim. Quando cheguei à mesa, o ambiente estava agradável. As mãos quietas. Calmas. Delicadas. Tocavam a asa da minha xícara levemente. Usavam a colher para misturar-me. Típico de quem tem o pensamento distante.
Logo o celular tocou. Odeio isso. Não consigo acompanhar a conversa por completo. São apenas fragmentos. Mas deu para notar que o papo não estava bom. E percebi isso novamente por causa das falantes mãos. Em um instante estavam agitadas. Moviam-se freneticamente. Causando um verdadeiro tsunami em mim. Quase fui ao chão diversas vezes. Desagradável...
Mantive-me firme. Sem mãos. Apenas com a asa da minha xícara. Impassível. Tentando me equilibrar. Finalmente a conversa acabou. As mãos, então, calaram-se. Por um breve momento achei eu nem estavam ali. Sossegadas. Apenas arrumando os cabelos ruivos. Vez por outra. Aplicando batom à boca. Mexendo na bolsa.
Novamente o celular. Tremi. Pude sentir as ondas de pavor se dissiparem por todo meu líquido. Mas, agora, a conversa era menos intensa. Ufa! Talvez falasse com algum familiar. Parecia aflita para desligar. Seus dedos rechonchudos com unhas vermelhas, então, resolveram tamborilar por sobre a mesa. Um som altíssimo para mim. Logo, as tais mãos começaram a arrumar tudo em cima da mesa. Endireitou as toalhinhas. O açucareiro. O adoçante. A xícara. Tudo ficou em perfeita ordem. Desligou.
Pouco tempo depois soa e vibra o tal aparelho novamente. Agora devia ser uma amiga. E minha companheira de mesa tinha novidades interessantíssimas para contar. Assim, os braços entram na história. Eram mãos e braços para todo lado. Movimentos expansivos. Amplos. Relaxados. Eu estava novamente em perigo.
Acabada mais essa conversa, um momento de silêncio e contemplação. Quando o celular finalmente parou de tocar. Ela resolveu ir embora. Como eu sei? Sem uma única palavra. Ela bateu levemente com as duas mãos sobre o tampo da mesa. Tocando apenas as pontas dos dedos.
Virou-se novamente. Procurando o garçom. E novamente fez aquele mesmo aceno do início. Balançando os dedos. Pagou sua conta. E, por fim, abanou a mão para um conhecido. Fazendo o já instituído gesto de adeus. Balançando a mão para um lado e para o outro...
Mariana Primi Haas - MTB 47229 Dezembro/2011
Mariana Primi Haas - MTB 47229 Dezembro/2011