sábado, 11 de fevereiro de 2012

Crônica 65: O Argumento



“Lágrima não é argumento” – Machado de Assis


Amigos queridos, após umas férias merecidas, volto ao batente. E agora, com a mudança realizada, estou localizado próximo ao mar. Sim, novo ano, novo ambiente, novas histórias. Confesso pelo que tenho percebido que as maiores alterações foram a umidade do ar, o calor intenso e a vestimenta dos meus amigos e companheiros. Claro, tem sempre a concorrência da água de coco... Mas nisso eu dou um jeito.


Nem bem me instalei e já se sentou na minha mesa um casal simpático. Ela mais gordinha. Usando roupas justas, pretensamente sensuais. Ele, exibindo estilo indefinível. Numa intenção estranha de se parecer com um surfista. Trajava um bermudão bem estampado. Acho que vi coqueiros nas pernas da tal bermuda. A blusa era bem cavada e laceada – não sei ao certo se pelo uso ou se pelo lado fashion da coisa. Mas fico com a primeira opção.


Num primeiro momento não iam me chamar (o que considero bastante deselegante. Afinal, estão em um lugar chamado “Café”). Eles queriam algo mais fresco (OK. Fazer o que...). Eis que a bela dama lembrou ao namorado que chovia do lado de fora. Precisavam de algo que os aquecesse. Aqui é assim: caiu um pouco a temperatura (talvez de 40 para 29). Pronto. Está frio. E todos tiram seus casacos do guarda roupa. 


Na mesma hora o estranho rapaz mudou de ideia e me convidou a fazer companhia aos dois. Logo percebi um clima estranho no ar. Na hora entendi. Eu havia sido colocado em meio a uma tensa discussão. O tema é o mesmo que permeia as brigas da maioria dos casais. Ciúme. Pois é. A jovem reclamava dos desvios de olhares do enamorado.


“Eu vi ‘tu’ na praia olhando para toda e qualquer bunda que passava! É sempre assim! Não sei por que insisto em ir à praia com você!”. Parou e respirou um pouco.


“Meu Deus. Do que ‘tu tá’ falando? ‘Tá’ doida?”


“‘Tu sabe’ bem do que eu ‘tô’ falando!!! Falo daquele dia...!”


“Tá, daquele dia... Estou aqui com você, poxa... Eu não me incomodei quando ‘tu encontrô’ aquele seu ex e se ‘jogô’ toda pra cima do cara na frente de todos! Mas quer saber de uma coisa: não olho mais pra ninguém quando ‘tu estivé’ com você. Olho quando eu ‘estivé’ sozinho, melhorou?”. Terminou furioso seu discurso.


Momento de silêncio. Não sei bem porque, mas a jovem ficou sem argumentos. Eu teria vários. Mas ela não teve. Calou-se. Não encontrou palavras. No entanto, não podia dar o “braço a torcer”... Baixou os olhos. Demonstrando humildade. E, com algum esforço, conseguiu que algumas lágrimas escorressem pelo canto dos olhos.


O namorado vendo aquela cena comoveu-se. “O que ‘tu’ tem? Foi alguma coisa que eu falei?”. Não. Não era nada do que ele havia falado. Ela sabia que havia pisado na bola com ele no tal dia. Era apenas falta de argumentos.


“Nada”, disse de forma pura e ingênua. Quase acreditando no próprio pesar. “Meu amor, não chora, por favor. Não quis te magoar. Juro. ”Ela, então, fez aquele olhar de baixo pra cima. E para terminar fez um meneio leve com a cabeça. Por fim, disse num tom angelical: “Esquece. Eu não quero brigar. Você vem lembrar histórias do passado. Chato isso. Mas é o seu jeito. Me dá um abraço...” . 


Bom, só pra lembrar: ela iniciou as acusações (com fundamento ou não). Mas, como eu disse, nessa minha mudança as histórias continuam dentro das mesmas problemáticas. Afinal: casais são casais. Cachorros são cachorros, mães são mães, homens são homens, etc ... e Mulheres são mulheres em qualquer lugar e sabem “argumentar” como ninguém!


Mariana Primi Haas - MTB 47229                                                                                                                                        Fevereiro/2012