Por
um instante sentiu-se especial. Mesmo sabendo que deveria ir embora
ela queria ficar. E simplesmente sentir-se protegida. Mas, sabia que
coisas assim não aconteciam na sua vida. Era só a bateria começar
a bater em seu peito que logo o repique dava problema. Ou então era
uma cuíca. Um surdo. Aliás, chegou à conclusão que a bateria de
seu coração fora composta apenas por surdos.
Não
que não ouvisse o que lhe diziam. Tinha prazer em ouvir. Mas pra
quê? Aquela história já tinha acabado. Aquele caso já era
perdido. Mesmo assim aceitou. Por mãos cuidadosas, talvez. Comprou a
ilusão como se fosse peça em exposição em uma vitrine dantesca.
Foi
nesse momento tragicômico da sua vida que nos conhecemos. Afinal,
eu, o cafezinho, sou perfeito para aquecer corações. Quando entrou pude ver em seu
semblante um misto de raiva, incompreensão e decepção. Talvez a
última fosse a mais presente em seus pequenos e distraídos olhos.
Olhos de quem reflete sua alma em um espelho.
Em
sua mente podiam-se ler palavras ofensivas, situações
desagradáveis, misturadas com o doce sabor do açúcar de uma hora
atrás. Logo ela. Sempre tão esperta. Que costumava dizer tchau...
Mas esse ela já havia dito. Sentia-se na pele de Mathieu, personagem
de Sartre, que como
ela estava na “Idade da Razão”.
Racionalizando. Tentando descobrir o porquê permitiu. Por que teria
feito isso consigo. E recordou-se com clareza de um trecho do livro.
(...) É verdade, devia zangar-me. Seria
normal. E talvez me zangue ainda. Mas por enquanto estou apenas
tonto.
Uma
lágrima desce seca pela sua bochecha magra e acaba em sua boca
morna. Uma única lágrima. Já era o bastante. Lembrou-se de outras
tantas que já rolaram em seu rosto. E compreendeu toda sua vida
feita de despedidas. De desencontros e de momentos vazios.
E
no seu último gole. Quando eu já estava frio, ela pensou: “se
você tivesse pedido, eu teria aceitado...”
Mariana Primi Haas - MTB 47229 Fevereiro/2013
Mariana Primi Haas - MTB 47229 Fevereiro/2013