Eram habituês do meu salão. Um
casal diferente é verdade. Ela cheinha. De saia rodada. E maçãs do rosto bem
vermelhas. Ele, já seco pelo tempo.
Cabelos prateados. Pareciam mais pai e filha. Mas, não. Formavam, mesmo,
um casal. Muitas carícias. Muitos abraços e beijos.
Ele cuidava do som ambiente que rolava no espaço. Ela esperava. E
enquanto esperava me convidava à sua mesa. Eu talvez não fosse a companhia
ideal. Era quieto demais. Mas, de certa forma, era quentinho e acolhedor. O que
me garantia um lugar ali.
Estava tudo tranquilo. Como sempre. Vez por outra ele vinha até a mesa.
Muitos olhares curiosos o acompanhavam. Era assim. Sempre. Eles estavam
acostumados. E também estavam acostumados a brigar. Brigavam muito. Demais. Era
cansativo.
No entanto, até aquele momento as coisas estavam em paz. E foi sem aviso
prévio que um estrondoso, “como você pode?”, saiu da pequena boca escondida
pelas bochechas infantis da menina. Falaram baixo. Murmuraram desaforos. Ele
olhava para o os lados. Afinal, estava em seu local de trabalho. Ela olhava
para baixo. Para mim.
Ele precisou voltar ao seu trabalho. Ela estava inconformada. Não
compreendia. Depois de dar mais um golinho em mim, levantou-se. Não era o tipo
que fazia gênero. Ou talvez fosse exatamente este tipo. Mas também não queria
sair dali. Chorou. Chorou. Chorou tanto que todos a sua volta ficaram
preocupados.
Eu que já estava gelado, afinal fazia frio, fiquei ali observando.
Primeiro sentou-se uma funcionária do lugar sugerindo que ela fosse pro
banheiro chorar. Poderia incomodar os clientes. Depois veio um garçom. Delicadamente
lhe disse: “você está chorando por causa de homem, meu bem? Então escolha
melhor seus pares”.
Seguiu-se a ele uma jovem. Conhecida dela. Que já figurou nas páginas
deste cafezinho. Sempre bem arrumada. “O que houve querida?”. Com cada um
deles. Cada um que tentou se aproximar. Ela havia conversado. Muito. A
maquiagem já estava toda borrada. Lágrimas pretas lhe escorriam dos olhos.
Mas nada fazia com que parasse. Parecia que cada um que se sentava ali,
estimulava mais sua autopiedade. Ou, talvez, sua demonstração de dor excessiva.
Resolveu, por fim, “esconder-se” na área de fumantes. Não fui junto. Mas, ela
não demorou. O tal, causador de tanta dor, apareceu.
E foi um abraço tão intenso. Ele parecia engoli-la naquele abraço. Ela
baixou a cabeça. E enfiou fundo no seu peito. Ficaram ali pelo que pareceram
dias. Fizeram as pazes. Ele precisava voltar ao trabalho. Antes de sair da
mesa, perguntou-lhe: “você está bem? Espera-me?”. Fez que sim com a cabeça. Ele
se levantou e dirigiu-se a mesa de som. E depois de tudo. Ela pegou sua bolsa e
saiu... Sozinha... Agora, não chorava mais... Ria...
Mariana Primi Haas - MTB 47229 Março/2013
Mariana Primi Haas - MTB 47229 Março/2013