E
o mundo por mais urbanizado que seja, continua sendo o mesmo mundo de sempre.
Bichos e plantas fazem parte do cenário mesmo nas maiores metrópoles. Não tanto
quanto gostaríamos, é verdade, mas ainda fazem parte. E são os mais variados. A
começar pelos mais fofinhos e adestrados. Cães. Gatos. Passando por animais
selvagens como araras. Tartarugas. Papagaios. E, por fim, os mais nojentos. Temerosos
e evitados. Ratos. Baratas.
Estávamos
sentados em uma das mesas. Era cedinho. Aquele calor pavoroso ainda não se
apresentava. Ela estava arrumada. Salto alto. Maquiagem. Bolsa. Pasta. Jornal
nas mãos. Eu estava expresso. Forte. Com espuminha. E, o mais importante, doce.
Era
apenas mais um início de dia. Essa minha amiga é daquele tipo fiel. Vem todos
sempre. Ela gosta de começar o dia comigo. Já a ouvi comentar: “sem o meu
cafezinho, meu dia não começa”. Ai, fiquei super. Hiper. Ultra feliz. Ainda
mais em épocas com esta em que estou parcialmente abandonado.
Voltando
ao assunto. Em determinado momento, ela colocou o jornal sobre a mesa.
Levantou-se devagar. Ajeitou a roupa e seguiu até o toilete. Eu fiquei por ali mesmo. Esperando. Como de costume. De
repente, vi um daqueles bichos que a gente evita vindo direto para cima de mim.
Sim. Uma abelha. E eu ali. Sem poder fazer nada.
E,
puft. Ela caiu pra dentro. Nadou. Mergulhou. Ficou toda lambuzada de mim. Foi
até lá o fundo. E... Encontrou... O Sr. Açúcar. Nesse momento, minha amiga
querida voltou. Aparentemente estava tudo normal, já que a abelha estava
camuflada no meu líquido escuro. Ela não viu. Sentou. E deu um gole em mim.
Chegamos
à parte estranha da história. A abelha, num esforço “sobrehumano”, pulou do
fundo da xícara. Passou pelo líquido quente. Entrou na boca da minha amiga.
E... é isso mesmo. Picou a parte interna do seu lábio superior. Minha amiga.
Uma das poucas que têm me visitado nesse verão. Saiu de lá com a boca inchada.
Dolorida. Com um ferrão nos lábios. Que coisa...
Por
sorte ela não ficou com raiva de mim. Continua vindo me ver todos os dias pela
manhã. Ainda está com a boca bastante inchada. Mas, reparei que ela adquiriu um
novo hábito: checar a xícara com a colherzinha, sempre, antes de bebericar meu
conteúdo... Vai que...