O clima já estava quente quando eu cheguei. Quente não. Fervendo. O ar no entorno da mesa borbulhava, quase tanto quanto a água necessária para o preparo de um bom café. Fui delicadamente colocado na mesa.
Mal me ajeitei e... Senti uma pequena vibração. Poucos minutos depois ouvi o tilintar do pires e dos outros copos na mesa. Só então me dei conta. Eu havia sido posicionado no olho de um furacão. Isso mesmo. E quem estava a ponto de explodir era uma mulher. Quarenta e poucos anos. Novamente um casal.
A tal senhora estava tão nervosa, tão nervosa, que não conseguia perceber o tamanho do escândalo que protagonizava. Ela tremia. Ele não entendeu o porquê de tanta excitação. “O que foi que eu fiz?”, pensava.
Em meio à tamanha confusão eu pincei uma frase. Simples. Mas esclarecedora.
- “Eu vi a sua nova secretária!” – Berrou insana.
O que? Toda aquela fúria por causa de uma secretária? Isso mesmo. Ele tentava justificar. Explicava que nem conhecia a moça. Que era uma funcionária como outra qualquer. Nada adiantou. A cada explicação. Um novo acesso de fúria.
- E você nunca reparou que ela é bonita?
- É bonitinha. Mas é minha secretária. Pára com isso!
Foi então que aconteceu o que eu mais temia. Ainda estava cheio. Já estava gelado. A esposa estendeu a mão e... Pegou-me... Em uma fração de segundos fui atirado contra a parede. Fiquei lá... Escorrendo. Marrom. Minha xícara quebrada.
Satisfeita, ela saiu. Deixou o marido – ou ex-marido – lá. Sentado. Pensando “O que está acontecendo... Eu nem havia reparado se a menina era bonita ou feia... Meu Deus!”. O gerente da casa se aproximou do homem. Devagar. Ele olhou para o homem. Este lhe devolveu o olhar e disse:
- Mais um café, por favor – impassível. Apático.
Mariana Primi Haas - MTB 47229
Agosto/2008
6 comentários:
Pior que o ciúmes?? Só mesmo um café, frio, fraco e amargo, atirado contra uma parede branca!!!rsrsrsrs
O café, o patrão,sua esposa, o garçon e a amante.(ou secretária?) Belo enredo. Ainda bem que ninguèm saiu cozido e comido...talvez o pobre do café tenha sido lambido por um mendigo impassível e apático ou alheio.
Finalmente conseguí ver o seu blog, obaaaa! Muito bem sacada essa idéia de escrever do ponto de vista do cafezinho, Mari! Os textos estão bem leves, com jeito de crônicas do cotidiano, e conseguem tocar em temas que mexem com todo mundo. E eu não sei se foi proposital ou não, mas a pontuação que você coloca nos textos, com frases curtas, acaba dando um ritmo bem legal. Quase como se a pessoa que está narrando estivesse falando entre um gole e outro de café, mesmo...rsrsrs Enfim, Mari, muito bom! Continue assim, que vai ficar cada vez melhor! Abraço!!!
"O ciúme é uma construção elaborada por quem o está sentindo e depende pouco da ação do outro. Aquele que está sentindo ciúme, mantém-se convicto de que o outro é o causador de seu sofrimento e que as "provas" de que dispõe são absolutamente verdadeiras, bem como o significado a elas atribuído".Blá,blá,blá. Na real? Ciúme? Tenho, mas quem não tem? Mas não vale descontar no pobre do cafezinho!
eu aposto q é mentira, q ele tinha reparado, sim, na secretária! hmpf! hahahhahahahah
Shedespeare, através de Otelo, na obra - O Mouro de Veneza - considera o ciúme como o "monstro dos olhos verdes". Otelo, envenenado de ciúme pelo astucioso Iago, deixa-se levar por um ciúme doentio do seu melhor amigo com sua esposa, acaba matando a honesta, terna e doce Desdêmona. É isso "o monstro de olhos verdes" está presente na vida, na ficcção e motiva grandes tragédias.
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