Este foi um final de semana de clássico no futebol. “Taí” uma coisa que eu nunca vou entender: a magia desse esporte na alma masculina. Ele é capaz de unir os mais estranhos tipos. Pessoas que jamais conversariam. Jamais trocariam qualquer assunto. Mas bastou começar a falar de futebol e a conversa começa e é como se dois completos estranhos fossem amigos íntimos há anos.
A minha mesa era composta por dois casais. As mulheres mantinham uma conversa morna. Falavam do tempo. Os dois amigos, por sua vez, mantinham uma visceral discussão sobre seus times do coração. Cada um torcia por um time diferente. Conheciam-se há tempos.
O jogo começou. Os dois começaram a ficar inquietos.
- Você ouviu esse grito? Será que foi gol?
Chamaram o garçom. Um rapaz tímido. Acostumado apenas a servir. Levar-me de um lado pro outro. Perambular calado pelo senhor. “Sim, senhor. Não, senhor.”. Ele foi até a mesa. Como sempre.
- Amigo, você tá ouvindo o jogo?
O garçom corou. Suas bochechas pareciam duas maçãs bem vermelhas.
- Então, deixei o rádio na cozinha. Até a hora que sai de lá não havia tido gol de ninguém.
- Não é possível! Torce pra quem?
- Pro Corinthians...
- Ai camarada! O Zezinho tá jogando?
- Tá nada! Colocaram o outro lá! Esse técnico tá estragando tudo... Parece que não pensa!
O garçom meu calado amigo de tantos anos. Quase tão calado quanto eu. Para quem a primeira regra é não conversar com os clientes. Pareceu esquecer-se de tal norma. Empolgou-se. Falou do técnico. Dos jogadores. Da situação do time.
- Tão sofrendo, hein, véio? Bom é torcer pro São Paulo! – Interveio o outro amigo.
E o mais novo integrante daquela mesa, solta um: “é nada, tudo bambi!”. O São Paulino empertigou-se. Ali naquele momento tornaram-se grandes amigos. Os três. Era como se fossem conhecidos de longa data. O garçom esqueceu que era garçom. Os amigos esqueceram que eram clientes. Todos eram tão somente torcedores. Defensores de seus brasões.
E era um vai e vem da cozinha. “Gol de fulano com passe de cicrano”. E a cada informação nova uma nova discussão. Em determinado momento cheguei a achar que os três iriam se matar.
Que nada. Quando o jogo acabou, os dois pediram a conta.
- Ai amigão! Trás a conta pra gente!
A conta chegou. Pagaram e saíram. Com despedidas alegres. A rivalidade não havia sido levada a sério. Nem mesmo as posições ocupadas naquela situação. Garçom – Cliente. E nosso amigo, fiel escudeiro, voltou a circular calado pelo salão. Seguindo sua primeira e fundamental regra: Jamais conversar ou se tornar intimo do cliente.
Mariana Primi Haas - MTB 47229
Fevereiro/2009
7 comentários:
esse café tava bem longe do morumba né? rs rs..muito bom
beijos..
acho que faltou uma amiga distante do cafe nesse papo - a cervejinha gelada....essa combina com futebol, e acho até que entenderia mais do assunto que nosso amigo cafezinho.....
futebol é chato, mas admiro essa capacidade de unir as pessoas....
bjo
maneirissimo post. Gostei.
Maurizio
Futebol, telão, cerveja, histeria, homens - mas por que não mulheres? - o café entrou de gaiato no navio e se deu bem. Gostei.
Mariana.Ótimo seu texto.O futebol no café é realmente um esporte,sem
violência,fazendo com que as pessoas questionem e reflitam em Paz.Ao contrário do que acontece nos campos.Mais uma vez provamos
que um cafézinho esta sempre fazendo amigos.Beijos mil.
Fernando Rubano.
Na filosofia existencial do Portuga tem uma santa trindade:
a dos três Efes.
Futebol- Fado - Fátima
tá vendo a força da trindade não é?
Xaxuaxo
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