Dessa vez eu não fui convidado a sentar. Fui levado até a mesa em socorro de um de meus freqüentadores. Isso mesmo. Em socorro. Trata-se de um senhor que está por volta dos sessenta anos. Todo o dia vem até minha casa e, desaforadamente, escolhe para sua companhia uma cerveja.
Aliás, uma não, várias “long necks”. Chega feliz, animado. Senta-se. Não é nem preciso chamar o garçom. Este vem à sua mesa rapidamente. E já chega com o pedido em mãos. Uma long neck. Sempre a mesma marca. Ele vai saboreando. Toma vagarosamente. Uma, duas, três...
Aos poucos sua fisionomia começa mudar. Os olhos vão ficando avermelhados. As mãos trêmulas. A cabeça começa levemente a cair. Sua expressão se torna estranha. Não diz muita coisa. É como se mantivesse o olhar pregado com um prego frouxo em algum ponto. Ponto esse, que provavelmente existe apenas na sua cabeça.
Até este momento as coisas estão sob controle. O problema foi justamente quando as coisas saíram do domínio do gerente e do próprio cliente. Dia desses, nosso amigo, resolveu acender um cigarrinho. Nada demais, algo “inocente” e muito comum em pessoas com o nível etílico alterado.
Cutucou o cliente da mesa ao lado. E em sua fala mole pediu um cigarro. O homem da outra mesa não se incomodou e atendeu ao pedido inusitado. O homem segurou o bastão branco nas mãos. Olhou. Olhou e olhou. Como se não soubesse muito bem o que fazer com aquilo. Como se sequer recordasse pra que havia pedido aquilo.
De repente lembrou-se. Era para fumar. Mas ele não fumava. Tudo bem. Já estava com o cheiro do tabaco nas mãos mesmo. O cliente da mesa ao lado, vendo a situação, perguntou: “O senhor quer o isqueiro?”. O senhor, um tanto quanto confuso, assentiu afirmativamente.
O cigarro foi aceso. Colocou o cigarro entre os lábios como ele achava que deveria fazer. E manteve-o ali. As mãos apoiadas na mesa. As pálpebras foram fechando. A cabeça teve uma queda brusca. Ele dormiu. O cigarro na boca. Guardanapos.
A garçonete prevendo uma situação difícil avisou ao gerente. A única resposta que teve foi: “O deixe em paz. Leve um cafezinho para acordá-lo. O homem paga direitinho. Começa subir um leve cheiro de fumaça. E o rapaz da mesa ao lado levanta-se para chamar alguém. Os guardanapos estavam pegando fogo.
Foi quando cheguei. O barraco estava armado. Uma confusão só. O homem acorda vê tudo aquilo à sua volta. Não entende. Olha como se fossem todos loucos. Vê minha xícara e diz: “Oba! Estava mesmo precisando de um desses”. A garçonete aproxima-se perguntando se ele está bem. Está tudo ótimo. Ufa!
Passado o tumulto vira-se para o cliente da mesa ao lado pede um cigarro e pergunta:
- O que está acontecendo? Até parece que houve um incêndio por aqui!
Mariana Primi Haas - MTB 47229
Março/2009
Aliás, uma não, várias “long necks”. Chega feliz, animado. Senta-se. Não é nem preciso chamar o garçom. Este vem à sua mesa rapidamente. E já chega com o pedido em mãos. Uma long neck. Sempre a mesma marca. Ele vai saboreando. Toma vagarosamente. Uma, duas, três...
Aos poucos sua fisionomia começa mudar. Os olhos vão ficando avermelhados. As mãos trêmulas. A cabeça começa levemente a cair. Sua expressão se torna estranha. Não diz muita coisa. É como se mantivesse o olhar pregado com um prego frouxo em algum ponto. Ponto esse, que provavelmente existe apenas na sua cabeça.
Até este momento as coisas estão sob controle. O problema foi justamente quando as coisas saíram do domínio do gerente e do próprio cliente. Dia desses, nosso amigo, resolveu acender um cigarrinho. Nada demais, algo “inocente” e muito comum em pessoas com o nível etílico alterado.
Cutucou o cliente da mesa ao lado. E em sua fala mole pediu um cigarro. O homem da outra mesa não se incomodou e atendeu ao pedido inusitado. O homem segurou o bastão branco nas mãos. Olhou. Olhou e olhou. Como se não soubesse muito bem o que fazer com aquilo. Como se sequer recordasse pra que havia pedido aquilo.
De repente lembrou-se. Era para fumar. Mas ele não fumava. Tudo bem. Já estava com o cheiro do tabaco nas mãos mesmo. O cliente da mesa ao lado, vendo a situação, perguntou: “O senhor quer o isqueiro?”. O senhor, um tanto quanto confuso, assentiu afirmativamente.
O cigarro foi aceso. Colocou o cigarro entre os lábios como ele achava que deveria fazer. E manteve-o ali. As mãos apoiadas na mesa. As pálpebras foram fechando. A cabeça teve uma queda brusca. Ele dormiu. O cigarro na boca. Guardanapos.
A garçonete prevendo uma situação difícil avisou ao gerente. A única resposta que teve foi: “O deixe em paz. Leve um cafezinho para acordá-lo. O homem paga direitinho. Começa subir um leve cheiro de fumaça. E o rapaz da mesa ao lado levanta-se para chamar alguém. Os guardanapos estavam pegando fogo.
Foi quando cheguei. O barraco estava armado. Uma confusão só. O homem acorda vê tudo aquilo à sua volta. Não entende. Olha como se fossem todos loucos. Vê minha xícara e diz: “Oba! Estava mesmo precisando de um desses”. A garçonete aproxima-se perguntando se ele está bem. Está tudo ótimo. Ufa!
Passado o tumulto vira-se para o cliente da mesa ao lado pede um cigarro e pergunta:
- O que está acontecendo? Até parece que houve um incêndio por aqui!
Mariana Primi Haas - MTB 47229
Março/2009
3 comentários:
Bêbado, é sempre bêbado !
viva os bêbados, fumantes, mulherengos, gays, bolachas,velhos perdidos, mulheres solitárias, sexo, rock..viva Bukowski, Allen Ginsberg, Jack Kerouac e o "pope" Walt Whitman..cada poema lindoooooooo......hunn
alguém viu o Mickey Rouke lindão..novinho e a Faye Dunaway em Barfly? no brasuca era "condenados pelo vício" rs rs.....e "Crônica de um amor louco"?..Ben Gazzara e a estonteante Ornella Muti...avii..affffffff..nosaaaa...
Depois manda todo mundo para o AA/NA/Mada(mulheres que amam demais)/Neuróticos Anônimos/ Chocólatras anônimos/Jogadores Anônimos etc etc etc....
muito bão...esse café tá bão demais sô..parabéns pro velhinho
Um café após o incêndio não é só para bombeiros!
Já conferiu as histórias com temática feminina que o "Dicas..." está publicando em março?
Passe lá!
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