quinta-feira, 23 de abril de 2009

Crônica 47: A Bola da Vez


Hoje reencontrei uma amiga que não via há tempos. Fiquei tão feliz. Mas foi por pouco tempo. Ela sentou. Pediu um café. Olhou em volta. Procurou. Não achou. Chamou o garçom e pediu um cinzeiro. Nesse instante foi informada que ali não poderia mais fumar. Ela então, por respeito a mim, aguardou que eu chegasse. Bebeu-me friamente. Num gole só. Deixou o dinheiro em cima da mesa. Ao meu lado. E foi embora.
Eu fiquei ali. E eu perdi uma amiga. E perderei muitos mais. Não sei se é de conhecimento de todos, mas meus melhores e mais fiéis amigos são os fumantes. Proibir alguém de fumar enquanto toma um café é pedir para que ele não tome mais café.
Pois é, cada época tem seu vilão e a bola da vez é o tabagismo. Tudo bem. Não estou aqui para defender o cigarro. Para dizer que é bom que se fume. Ou ainda levantar uma bandeira. No entanto, entendo que permitir a existência de “Áreas de fumantes” adequadas ou espaços dedicados a essa prática é fundamental.
Fumar é uma atividade lícita. Assim sendo, torna-se impensável e impraticável o veto proposto. Nesse momento muitos de vocês irão usar alegações como: “mas e os fumantes passivos?”. A resposta é rápida e fácil: “devem se mudar da cidade de São Paulo, já que não gostam de fumaça e/ou poluição”. Só para lembrar: São Paulo é a 6ª metrópole em poluição do ar, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Essa é uma lei panfletária. Que está impressionando. Muitas pessoas estão se sentindo mais protegidas. Com pulmões mais limpos. A isso alguns dirão: “mas será bom para os fumantes também. Fumarão menos”. Doce ilusão. Continuarão fumando. Mais até. Apenas freqüentarão menos bares, restaurantes e visitarão menos a mim também.
Eu, um pequenino café. Com muitos e fiéis amigos. Alguns fumantes. Outros não. Imagino que haja tantas coisas a serem feitas. Tantas leis a serem criadas e cumpridas. Tantos escapamentos a serem fiscalizados. Chaminés de Fábricas. E a preocupação com o recolhimento de lixo reciclável, como anda?
Enfim. Não defendo o cigarro ou os fumantes. Que traz diversos problemas à saúde é de conhecimento geral. O grande problema é impedir que as pessoas que optaram por usar o cigarro, pratiquem esse hábito socialmente. Mesmo que em áreas restritas a elas. Ou, ainda, em espaços abertos. Respeito é bom e todo mundo gosta. Até mesmo os demoníacos fumantes.

Mariana Primi Haas - MTB 47229                                                                                                                                        Abril/2009

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Crônica 46: O Não.

Observo. Vejo. Olho. E a cada dia percebo que meus grandes amigos, os seres humanos, sentem mais falta do que não têm, não foi conquistado, do que daquilo que já se tem e foi embora. Ouço as mais diversas conversas onde o assunto é exatamente o não ter.
Muitas vezes as pessoas sentam junto à mesa e começam a tecer uma rede complicada onde estão sempre presentes os assuntos que não aconteceram. Fulano que não disse pra cicrano algo. Mas o que ele disse não é levado em conta. Algo que se quer conquistar e ainda não está em suas mãos. Porém, o que já é de posse não é considerado.
Ouvi de um rapaz o seguinte, dia desses: “é impressionante como nunca estamos satisfeitos com nada. Se alguém me perguntasse, há quatro anos, se eu queria ter estabilidade no trabalho e um bom salário eu diria que sim, enfaticamente. Hoje eu tenho isso e estou insatisfeito”.
Ele fez esse comentário despretensiosamente, no entanto, ao olhar para as mesas ao lado e ouvir atentamente as conversas estabelecidas, percebi como essa insatisfação é real. É vivida. Mais até que a saciedade do que se tem. Diversas vezes sentam-se aqui homens, mulheres, dizendo, “ele não disse que me ama hoje.”. E o que foi dito ontem? Não existe?
Ou então, eu p-r-e-c-i-s-o de um celular novo. Mas e o aparelho que está nas suas mãos? Invariavelmente quem diz isso tem algo novo em suas mãos. Pior que tudo isso. Quando duas pessoas tecem complicadas teias de críticas a outrem, normalmente são baseadas em algo não dito.
Duas meninas conversavam e “malhavam” uma terceira. Provavelmente do mesmo escritório. “Ela não fala, você reparou? Fica lá calada. No canto dela. E quando abre a boca é apenas para tentar ser gentil. Muito falsa. Ouve tudo e não fala nada”. A pessoa em questão não poderia apenas ser uma boa ouvinte?
Entende-se muitas vezes o não agir como falsidade. Desconsideração. Quando muitas vezes, se parassem e observassem veriam que as pessoas muitas vezes fazem coisas e essas não são notadas. Tudo isso pelo alto grau de expectativa criado.
Essa insatisfação pode ter origem em você mesmo e não com o outro. Não no seu atual celular. Homens, mulheres, crianças, aproveitem o que tem enquanto ainda o tem. E quando coisas novas aparecerem aproveitem igualmente. Mantendo sempre em mente o que já se foi. O que há. E não o que ainda virá. Um dia. Quem sabe.



Mariana Primi Haas - MTB 47229
Abril/2009

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Crônica 45: As Notícias.


Ando reflexivo. E quanto mais vejo ou leio jornal, mais reflexivo me torno. Costumo me perguntar se a violência física ou moral, seja ela qual for, aumenta a cada dia ou se cada vez mais a mídia se preocupa em mostrá-la.
Será que assassinatos passionais não aconteceram sempre? Será que pedófilos não estiveram sempre presentes? E o mesmo vale para estupradores, assassinos, traficantes... Será que toda essa desgraça exposta hoje, não esteve sempre entre nós?
Digo isso porque dia desses sentou uma moça em uma de minhas mesas para apreciar o calor de minha companhia. Junto a ela uma senhora. Conversaram bastante. Sobre tudo que se possa imaginar. De repente, a conversa voltou-se para os acontecimentos atuais.
- Você viu que escândalo horrível com aquele jogador!
- Não. Que jogador?
- Não sei bem o nome, nem em que time joga... Mas parece que matou a mulher!
- É? Por quê?
- Não entendi direito... Mas que matou, matou!
- Esse mundo tá perdido! Cada dia que passa aumenta a desgraça. Parece que as pessoas perderam a cabeça...
E então, me perguntei se a maldade aumenta a cada dia ou se a mídia televisiva apenas descobriu que falar sobre acontecimentos ruins gera mais polêmica do que trazer à tona coisas boas e, também, rotineiras.
Por exemplo, quando acontece um acidente no trânsito. Poder-se-ia enfocar na vida que não se perdeu, ao invés de colocar todas as atenções no sangue que escorre do rosto do coitado do pedestre.
Sabe, quando ainda estou na cozinha sendo preparado, costumo acompanhar alguns jornais que passam por volta das seis horas da tarde. É um horror. Gente morrendo. Sendo assassinada. Estuprada. De repente, aparece um cachorro que consegue se salvar no meio da enchente. Qual o destaque dado a esse fato? Nenhum. Voltasse imediatamente aos pedófilos.
É esse o ponto. Eu, como um cafezinho atento, acompanho alguns telejornais. Mas, quando olho para a quantidade de informações negativas apresentadas ali... Me canso.
A “informação” pode se tornar uma desinformação e a comunicação talvez esteja “des” comunicando. Não digo que não seja importante saber o que acontece no mundo. Inclusive as notícias ruins. Contudo é preciso analisar qual o limite.
É preciso não se tornar um viciado em desgraça. Assim, o mundo poderá ser compreendido e abraçado e vocês, seres humanos, terão domínio do que sabem. Saberão informações boas e ruins com equilíbrio. Poderão abrir a página de um jornal segunda-feira de manhã e saber que algo de positivo aconteceu! Seria interessante. Evitaria a fadiga, como diz um de meus freqüentadores.


Mariana Primi Haas - MTB 47229 
Abril/2009