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Em um café, como o meu, tudo pode
acontecer. Num dia frio e chuvoso de São Paulo (sim, estava frio, acredite),
ela se sentou e me convidou para aquele momento tão dela. Havia passado o dia
inteiro sonhando com aquilo. Tomar um café. Ler um jornal. Celular desligado.
Sem computador. Sem falatório. Sem cobrança.
Tudo corria dentro dos seus
planos. Paz total. Até que... Sem que percebesse um rapaz se aproxima da mesa.
Com um belo sorriso. Depois das apresentações formais, o jovem perguntou se
podia sentar ali, na cadeira vazia. “Pode... Claro...”
Conversaram um pouco. Mas ela não
queria conversar. Olhava para o alto. Sorria um sorriso cansado. E o moço
falava. Falava tanto. E ela pensando como sair daquela situação. Ele era
gentil. Como dizer que não queria conversar. Queria ficar sozinha.
“Nossa, preciso ir... Essa chuva
não passa”. Ele parecia não ouvi-la. Continuava tagarelando sobre suas
aventuras na Patagônia Chilena. E como é diferente da Patagônia Argentina.
Suspirou. Resolveu reclamar. “Ai essa chuva que não passa e eu com pressa
querendo ir embora. Este é o tipo de coisa que me irrita, sabe? Fico nervosa..."
E o jovem descrevia como foi
interessante a época que morou em Buenos Aires. Os apuros que passou por não
falar espanhol. E divertia-se ao contar os equívocos que cometeu por conta dos
falsos cognatos. Riu-se. Minha amiga nem sorrir conseguia mais. O incômodo era
maior.
Ela deu um gole em mim, como se
eu fosse uma pinga. Desconfiei que seria entregue pro santo. Não sabia dizer
não. Não queria deixá-lo chateado. Estava tão contente contando para alguém
sobre sua vida. Talvez ele não tivesse muitos amigos.
“Sabe, eu hoje estou muito chata.
Uma péssima companhia. Meu dia foi péssimo e tal. Nada contra você e suas
histórias, mas não estou num bom dia hoje”.
Tudo bem, disse o jovem.
Ingênuo ou inconveniente mesmo continuou seu falatório com a promessa de
animá-la. Ela não queria ser animada. Ela estava animada há uma hora. Quando
estava relaxando.
Começou a sentir que sua cabeça
ia explodir. Não sabia mais o dizer. O que fazer. “Olha, eu hoje realmente
estou muito chata. Você é uma graça de agüentar meu mau humor, mas não é certo
com você. Se quiser mudar de mesa eu vou compreender”.
Imagina! Sei como é quando estamos assim... Ela não podia acreditar
naquilo. E ele falava mais e mais. Partindo do Chile, ele agora falava sobre a
Bahia. Até que, vendo que o cara ali na sua frente realmente não ia desistir da
sua companhia, decidiu encarar a chuva. “Vou embora eu, então”, pensou.
Despediu-se. Pagou a conta. E
quando estava na porta, sem guarda-chuva, ele aparece. Olha você ai. Eu tenho guarda-chuva. Pra onde você vai? “Obrigada,
mas não precisa... Eu adoro tomar chuva”. De
jeito nenhum! Levo você. Vai pro metrô? Ela ia. Eu também. Olha que coincidência boa? Limitou-se a baixar a cabeça.
Mariana Primi Haas - MTB 47229 Outubro/2012
Mariana Primi Haas - MTB 47229 Outubro/2012
6 comentários:
Estava pensando exatamente nisso: como ser legal, qual a fronteira entre o agradável e o chato?
Muitas vezes é difícil, até mesmo
incômodo participar de uma conversa onde só uma pessoa fala,pois a necessidade de se fazer ouvir é grande.È preciso muita paciência e jogo de cintura para sair dessa situação.Conheço muitos casos assim.
Parabéns! Esse cafezinho já estava fazendo falta, comentando o cotidiano.
Olá amigos queridos! Obrigada pelos comentários! Espero vocês sempre aqui!
Querida Mariana, publiquei o conto "QUANDO DIZER NÃO" na seção "Canto do Conto".
Link: http://www.velhosamigos.com.br/CantoConto.asp?IdConteudo=17321
Muito obrigada!
Um abraço!
Obrigada Lou! O Cafezinho fica muito feliz com a divulgação de suas ações!
Abraços!
embora eu tenha raivinha de gente que não para de falar e de tentar ser legal, o rapazinho pareceu encantador... rs.
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