Estava tranquilo. Um dia feio. Chuvoso. Daqueles em que sair da cama, ou
da bandeja, nem pensar. Mas teve gente animada. Pessoas que decidiram tomar um
delicioso e observador cafezinho. Pra esquentar. Sabe como é...
Assim, contra todas as expectativas criadas por mim – preciso deixá-las
de lado – a casa lotou! Era café com chantilly para um lado. Com leite para o
outro. Café com espuminha pra lá. Cafezinho expresso pra cá.
Um tal de garçom estressado correndo com a bandeja. E nessas horas, eu
que me segure pra não cair. Cliente
irritado com a demora. Muito papo nas mesas. Beijos e abraços. E,
principalmente, muita leitura. Revistas, livros, jornais, tablets, são amigos
freqüentes.
Frequentei inúmeras mesas. Por fim, parei um pouquinho na mesa de um
jovem casal. Os dois com um estilo bem particular no vestir. Mas eram jovens.
Tinham uns dezoito aninhos e imaginei que ali eu teria uma boa dose de romance.
Sabe, às vezes é bom.
No entanto, ao ser colocado na mesa. Junto ao açúcar e à colherinha. Me
dei conta de que esse não era o caso. Minha ideia de um pouco de mimimi enquanto os pingos grossos caiam
do lado de fora foi pro brejo.
“Você não vai dizer que a culpa minha, né?”, disse a jovem magrinha. Com
um tom de voz baixo e bastante enfático. Não me dei ao trabalho de prestar
atenção ao restante daquela conversa que começou e seguiria vazia.
Meu foco foi a questão colocada por ela. A culpa. Um ponto tão humano.
Tão “Dostoévskiano”. Tão católica.
Assim como Raskólhnikov, personagem
de “Crime e Castigo”, as pessoas, hoje, vivem perturbadas. Sem saber como se
tornarem melhor. E, principalmente, com culpa. Pelo que fizeram e pelo que não
fizeram.
Acaba-se por não perceber que a culpa corrói. Atormenta. Falta, talvez,
entender que a culpa inexiste, A responsabilidade, sim, É real. Palpável. E
deve ser invocada em alguns momentos. Mas a culpa... Nada mais é que um
sentimento abstrato. Usado para pesar sobre o outro. Ou vitimar a si mesmo.
Como no caso em questão.
Não havia culpa naquela mesa. Podia haver qualquer outro fator. Mas não
culpa. Eu saí antes que pudesse ouvir a resposta do rapaz. Mas se eu pudesse,
diria: “Não, minha querida, a culpa não é sua. A culpa não existe. A culpa não
é sólida. Não queira ter tudo, inclusive a culpa”.
Mariana Primi Haas - MTB 47229 Janeiro/2013
Mariana Primi Haas - MTB 47229 Janeiro/2013
4 comentários:
A culpa é um conceito. Religioso. Difícil escapar. Muito boa a análise. Gostei do texto.
Obrigada André C.!
na minha peça - estreia em breve - deus diria que a culpa é culpa dos católicos... rs
Hahahahaha... Não tenha dúvida, Tally!!!!! Estréia em breve???? Oba! Este Cafezinho estará presente!!! Avisa! Bjs!
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