segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Crônica 27: A MÃE

Que final de semana agitado. Também, depois de tantos sábados e domingos chuvosos... O sol apareceu. E era criança brincando. Cachorro latindo. Tantos beijos apaixonados. Casais de mãos dadas. Famílias confraternizando. Uma festa. Adoro finais de semana como esse: Alegres.

Mais uma vez uma vez teremos cachorro na história. Mas, como já comentei, minha casa é muito freqüentada por esses clientes bagunceiros, peludos e de quatro patas. Na mesa estava eu, ornamentado com canela, uma jovem e um lindo “salsichinha”.
Tudo era paz. Ela parecia esperar por alguém. Estava feliz. Lia uma revista feminina. Tomava seu café. O pet – com o sugestivo nome de “Hot” – bebia água. Bem, como todos sabem, cachorro atrai crianças. Funciona quase como um ímã de pequenos.
Pois bem. Eu estava ali. Só admirando aquela algazarra. Do nada surge um lindo serzinho de cabelos ruivos e enrolados. Devia ter 1 ano – no máximo – pois vinha cambaleante. Mesmo com a dificuldade dos primeiros passos, correu o mais que pode para chegar até “Hot”. Alcançou-o.
A jovem segurou a coleira do animalzinho. Procurou pela mãe. “Hot” já não é mais um filhote. Sua paciência com petizes havia terminado. Ele queria apenas comer seu biscoitinho em paz. Mas o menino parecia empolgadíssimo. Veio com tudo. Sem idéia de força, começou a “acariciar” o cão.
A dona do cachorro começou a temer a reação de Hot.
- Querido, por favor... Melhor não brincar com ele... Ele está comendo... – dizia sem sucesso.
A criança parecia determinada. A mãe... Sumiu. Sem mais, a criança agachou-se, ficando cara a cara com o animal. Nesse momento a preocupação aumentou. Se Hot já estava se sentindo incomodado com tanto “carinho”, imagine só uma encarada... Imaginaria estar sendo desafiado...
- Queridinho, ouça a Tia, por favor, se afaste do cachorrinho... Cadê a mamãe?
- Sou eu. – Afirmou uma mulher alta e loura. Muito produzida.
- Meu filho a está incomodando? – Continuou a mãe.
- Não é isso. Acontece que eu estou preocupada. Hot já é um senhor. Não tem muita paciência com crianças... Entende...?
- É tem gente que prefere cachorros a crianças... – provocou a mãe. Muito irritada. Pegando o filho pelo braço.
- Calma senhora. Não é isso. Estou preocupada com a segurança do seu bebê. A senhora deveria ensinar a ele a jamais encarar um cachorro. Animais são puro instinto. A qualquer sinal de ameaça eles podem atacar. É perigoso.
- Olha aqui mocinha quem cuida do meu filho sou eu! Você não vai me disser o que devo, ou não, fazer! – A mãe falou. Falou. Falou. Nossa, até eu cansei daquele palavrório sem sentido.
Nesse instante a dona de Hot se irritou. Rosnou. Indignou-se... Provavelmente...
- Tudo bem. Então o dia que um cachorro arrancar o nariz do seu filho a senhora não reclame!
A moça, então, levantou a revista. Escondeu-se. A mãe, por sua vez, pegou seu anjinho no colo e saiu batendo os pés. Nossa. Pra que? Até onde eu sei e vi, a dona do cachorro tentava apenas alertar à mãe do menino quanto a alguns cuidados.
A mãe foi para casa. Brava. E todo o ódio injustificado que sentiu, pela “mocinha” do cachorro, provavelmente se voltou para ela mesma. Uma dor de cabeça. Uma azia. E o pior: só de birra não ensinará seu filho a lidar com cachorros... O que me leva a crer que a solidariedade caiu tanto em desuso, que hoje é considerada uma provocação. Uma invasão.



Mariana Primi Haas - MTB 47229 
Novembro/2008

4 comentários:

Anônimo disse...

Acho que certos pais deveriam frequentar uma escola para saber educar os filhos.

Anônimo disse...

Muito bom! Vc é muito criativa!Sorte por ai.. Beijo grande pra vc!

Anônimo disse...

Você lida muitíssimo bem com as sutilezas do cotidiano! Fiquei fã! Beijos

Anônimo disse...

Que texto gostoso o seu, Mariana! E bem um estilo que adoro. Eu também escrevo sempre com a intenção de aproximar as pessoas, as coisas, os seres, mostrar a força que exercem uns sobre outros, chamar a atenção para a interdependência... Às vezes duvido de certas "vantagens" humanas, outras invejo a serena mudez de plantas e pedras, o respeito natural dos irracionais. E seu texto me parece assim. Numa serenidade do azeite que flui pelos menores orifícios, vai unindo as partes, reduzindo atritos, facilitando encontros do leitor consigo mesmo, de todos uns com os outros. Parabéns!