segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Crônica 29: O INCÔMODO

Às vezes acho que eu sou muito sensível a certos acontecimentos. Talvez seja o Natal chegando. Talvez, apenas, um lado humano parecendo em mim. Afinal, cafés não costumam sentir. Mas eu sou um café diferente. Sinto. Escrevo. Penso. Analiso. Fico, até mesmo, indignado.
Andei lendo o jornal alheio... Confesso. E li algo que me assustou. O caos instaurado em Santa Catarina, após uma forte tempestade. O dono do jornal era um jovem. Muito bonito. Estava acompanhado por sua namorada. Que casal agradável. Liam. Conversavam. Tomavam seu café.
Era sábado. Um dia próprio para fazer nada. Que delícia. Até que o rapaz abre o jornal. A página escolhida falava sobre o desastre dantesco e surreal ocorrido em algumas cidades do estado de Santa Catarina. Ele pára. Pensa. E, finalmente, pergunta:
- Se você tivesse um helicóptero e soubesse que estão precisando de helicópteros emprestados para o salvamento das vítimas. O que faria?
- Eu emprestaria – responde ela, firmemente. – E você?
- Eu também. Claro. É isso que estou pensando. Aqui diz que estão precisando de helicópteros. Tem uma porção de empresários... Todos com mais de um... Ninguém se habilita? Poxa é para salvamento! Caminhões também...
- Pois é... E depois quem tem um pode ter dois... Caso aconteça algo com a aeronave dele... O pessoal é egoísta mesmo... Triste isso, né?
- Revoltante!
Os dois se entre olharam. Não podiam ajudar. Mas gostariam muito. Infelizmente nem todos pensam como eles. A maioria quer garantir o seu. E isso pode ser percebido desde as situações mais banais até as maiores calamidades. O ser humano, por vezes, esquece que é parte de algo maior que seu umbigo. Que faz parte do mundo.
Mas não faz mal. Ouvir esse casal conversando me trouxe esperança. Conforto. Paz. É bom saber que ainda existem pessoas preocupadas com seus semelhantes. Indignadas. Mesmo que não possam fazer mais que isso. Esse sentimento já tem poder por si só.
Desejo aos meus leitores – algo que ouvi há tempos atrás e jamais esquecerei – que se incomodem. E que nunca, nunca mesmo, consigam deixar de se importar. De se incomodar. Consigo e com os outros.



Mariana Primi Haas - MTB 47229 
Dezembro/2008

4 comentários:

Anônimo disse...

Mariana,gosto muito das suas crônicas,principalmente da forma como você tratou a catástrofe de S.C.,conseguiu através da sua arte expressar sua sensibilidade e despertar a do leitor.

Anônimo disse...

tem frases de Sartre interessantes rs: "O inferno são os outros" e "O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós." copiei do google hein..abcs.

Anônimo disse...

Maravilha, Não me canso de ler suas crônicas, parabéns, belo trabalho.

Anônimo disse...

Concordo com a Edi,e é bom acreditar que ainda há muitos seres humanos que não fecham os olhos para os seus semelhantes. Você escreveu muito bem.