Ele estava prestes a explodir. E o mais interessante disso é que ninguém
sabia. Mesmo eu. Tão próximo dele. Seu Cafezinho confidente. Pelo menos uma vez
por semana ele vinha me ver. Às vezes sozinho. Às vezes com amigos. Às vezes
com seu lindo cachorro. Era um homem jovem. Bonito. Comunicativo. Sua marca
registrada era o belo sorriso.
Vira e mexe, enquanto estávamos "conversando”, éramos interrompidos
pelo chato celular. E eu o ouvia dizer: "comigo tudo ótimo! E você como
está?". E o ouvia continuar a conversa alegremente. Mas, ao desligar e
voltar-se para mim, eu percebia a tristeza no fundo de seus olhos. Percebia o
desencanto no canto de seu sorriso. Tão lindo.
Ele não estava bem. Era nítido. Mas... Será que era tão nítido assim, só
pra mim? Será que os outros preferiam acreditar nas palavras superficiais dele?
Nas tintas de cor forte que ele usava para esconder os tons de cinza em que
realmente se apresentava sua vida?
O ser humano é mesmo racional apenas quando interessa. A solidariedade
passa longe. Mesmo grandes amigos, quando se encontram, invariavelmente,
perguntam: "Como vai?". E a resposta é, invariavelmente, "Tudo
ótimo!". Pronto. Todos acreditam e se dão por felizes. Mesmo quando sabem
que não pode ser verdade.
Seu amigo está desempregado e diz: "Estou ótimo!". E você acredita. Sua amiga terminou com um
casamento e diz: "Estou ótima!". E você opta por acreditar. Você não
fala com uma pessoa querida por meses, quando resolve procurá-lo diz:
"sinto muito, a vida anda corrida. Você está chateado?", e ele por
sua vez diz: "claro que não. Imagine.". E você... Acredita.
E por ai vai. É bem mais fácil acreditar. Poupa-lhes providências.
Poupa-lhes ajuda. A tristeza, tão comum à vida de qualquer ser humano, às vezes
são como mendigos. Passam por eles. Pulam os indivíduos na calçada e fingem que
não viram. Ou não veem mesmo.
Nosso amigo estava assim. Ótimo. E todos acreditaram. Pularam por cima
dele. E aceitaram que estava ótimo. Mesmo sabendo das dificuldades que
enfrentava. Mesmo sabendo que mesmo passando por uma má fase ajudaria quem
precisasse. Mesmo sabendo.
Sim. Porque ele não falava. Mas todos sabiam. Meu querido companheiro.
Fechara o sorriso por um instante. Estava com os olhos cheinhos de lágrimas.
Tinhas as mãos trêmulas. Estava com medo. E encontrava em mim alguém que
poderia compreender suas tristezas sem questioná-lo. Isso já era uma ajuda. Ele
tinha vontade de gritar. Muito. E alto. Mas não podia. Tinha uma aparência.
Caso gritasse, talvez, fizesse com que percebessem sua dor. Ele não sabia como
os outros reagiriam. Não sabia como reagiriam às suas próprias dores...
Mariana Primi Haas - MTB 47229 Junho/2013
Um comentário:
mas os amigos de verdade sempre percebem quando não está ótimo... até os próximos percebem... rs
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