Minha casa - sempre tão
tranquila e acolhedora - nesse dia era apenas acolhedora. O som ambiente,
normalmente composto por conversas animadas e música ambiente, virou um
amontoado de palavras descoordenadas. Bombas. Tiros. Gritos de horror.
Lá dentro havia um pouco
de tudo. Um microcosmo do mundo exterior. A televisão estava ligada num desses
programas "mundo cão". O apresentador vibrava com cada investida
policial. Cada um que entrava trazia alguma novidade. Novidade essa que sempre
ia na contramão das trazidas pelo tal programa.
Estávamos lá. Apavorados.
Assistindo a nossa esquina pela TV. Sem poder colocar a cabeça para fora da
janela. Nesse momento, uma conhecida minha de alguns anos, entra. Nervosa. Com
o coração aos pulos. Trazia consigo, além da bolsa, cadernos e diversos outros
materiais de trabalho nos braços. Ela mora lá perto de mim. Tentava chegar em
casa quando a cavalaria da Polícia Militar avançou para cima dela e algumas
outras pessoas. Detalhe: eles estavam na calçada e tentavam apenas atravessar a
rua. "teve gente que fugiu. Gente que subiu nos canteiros. Eu vim pra
cá".
Em seguida entra uma
outra amiga minha de muito tempo. Nervosa. Com medo. "Vocês não acreditam
no que eu vi: os próprios policiais colocavam fogo no lixo formando barricadas!
E ainda empurravam com o pé, para que pegasse fogo mais rápido!"
Por fim, alguns
manifestantes entraram na minha casa. Começaram a falar sem parar sobre o que
estava acontecendo. Os amigos que apanharam. Outros que passaram mal. Outros
que foram presos. Minutos depois, três bombas de gás lacrimogêneo foram jogadas
na porta. O gás invadiu minha casa. Por baixo da porta. E foi guardanapo e
vinagre para todo lado.
O caos estava posto. O
cenário era de guerra. Para mim lembrava uma daquelas cenas de bombardeio que
sempre vemos em filmes sobre a segunda guerra mundial. Ou, para dar um exemplo
mais tupiniquim, aqueles famosos tumultos entre militares e militantes em 1968.
O dia foi digno do mais tenso filme de terror. E tudo isso, apenas por uma
reivindicação... Tudo isso porque as pessoas cansaram de ser bons cordeiros desse
rebanho brasileiro falido. Tudo isso pela não aceitação do aumento na tarifa
dos ônibus. Será mesmo, SÓ por isso?
Mariana Primi Haas - MTB 47229 Junho/2013
Mariana Primi Haas - MTB 47229 Junho/2013
2 comentários:
A polícia de São Paulo é uma das mais violentas;conta com o apoio político(Alkmin)e, infelizmente, com a aquiescência de boa parte da população. Mas, é fato, as manifestações expressam não "só" o aumento da passagem de ônibus. Os gritos são por todo o cenário em que se encontra o país. E que venham as insurgências...
De fato as manifestações traduzem o descontentamento da população em todos os sentidos.Acho que outras manifestações deveriam ocorrer quando deputados,vereadores, enfim políticos agem contra o nosso povo,aumentando seus próprios salários, criando leis ridículas.
Postar um comentário