segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Crônica 13: AS MÁQUINAS

Dois homens. Um café. Dois computadores. Um único silêncio. É isso. Quando cheguei àquela mesa, algo me assustou: a falta de palavras. Sujeitos estilosos. Um pediu café com chantilly e o outro preferiu refrigerante – gosto não se discute, não é mesmo?

Estavam sentados um em frente ao outro. Nada falavam. Nem sequer se olhavam. Vez por outra eu ouvia algum som que não configurava, necessariamente, como uma conversa.

- Chegou aí?
- Não. Nada aqui.
- “Pera” aí. Vou ver o que está acontecendo. Entra no MSN que fica mais fácil!

MSN? Como assim? Eles estavam cara a cara. Dividindo a mesma mesa. Preferiram conversar pelo “chat”. Riram. Riram muito. E devem ter conversado horrores. De vez em quando uma garçonete aparecia. Um deles apenas erguia a mão em sinal negativo.

Não queriam consumir mais nada. O mundo virtual os havia consumido. Eu já tinha ouvido conversas sobre computadores, mas nunca imaginei que pudesse ser algo tão hipnotizante. Uma hora se passou. Eu esfriei. Fiquei gelado. O chantilly desmanchou-se. Derreteu. Misturou-se ao meu corpo. Eu devia estar horrível.

Aparece o terceiro elemento. Outro homem cheio de si. Este vinha sem computador.

- E aí, cara! Trabalhando final de semana?
- Nada! Tô só passando o tempo... Me divertindo...

O amigo recém-chegado assustou-se. Interrogação no ar. Dia de sol, dois amigos em um café, muita gente na rua. Dois computadores. Diversão? E pelo que pude entender eles estavam felizes mesmo.

O novato sentou-se e tentou puxar assunto.

- E a família? – arriscou... Sem saber se deveria investir em uma conversa tão... Real!
- “Pera” só um minutinho... Acabou o download agora... Um segundo...
- Ok - respondeu descrente.

E assim, a situação permaneceu por meia hora. O amigo “real” cansou-se. Os dois cibernéticos terminaram o “papo virtual”. Pagaram. Levantaram-se. Saíram. Provavelmente, cada um seguiu para sua casa. Foram terminar um download ou “conversar” com alguém via MSN. Provavelmente, nenhum dos dois notou o lindo dia que fazia na rua. Sequer viram o arco-íris. Mesmo assim, um dia eles perceberão que esta tarde, de fato, existiu. E se darão conta de que não a vivenciaram. Triste conclusão essa. Triste. Mas real.



Mariana Primi Haas - MTB 47229 
Agosto/2008

7 comentários:

Anônimo disse...

pô, esse café não majou nada...os dois são homossexuais e estavam namorando na boa e o terceiro um hétero pentelhão... Os dois estavam se divertindo passando sites e fotos da revista G Magazine... Fazendo downloads de coisas "grandes" para eles... compartinhavam e se deleitavam... E depois foram encontrar os príncipes que os encantaram em outros downloads num motelzinho com cachoeira, espumas, bolhas e arco-íris de neon...

Anônimo disse...

É. A tecnologia aproxima as pessoas! rsss

Anônimo disse...

Infelizmente a rede mundial de computadores vicia muitas pessoas, que deixam de curtir a natureza e o contato pessoal em detrimento de uma máquina. Fazer o quê!!!

Anônimo disse...

Afinal, para que serve o arco íris "in natura", se os sites todos já estavam divulgando as fotos do tal do fenômeno? É isso, simples assim...

Anônimo disse...

É a modernidade, tudo pelo superficial...........Carmem

Anônimo disse...

Oi Mari!!! Muito bom!!! Foi a primeira vez que pude dar uma paradinha no blog. Muito legal. Uma lástima as pessoas chegarem a esse ponto. Marcelo MPF
Marcelo Oliveira

Anônimo disse...

eu só queria comentar q "falar" pra mim, como vc disse, é MSN. pode gritar "pra mim não" agora. uahahahaha